quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A MULHER, O ESTADO E A REVOLUÇÃO: entrevista com Diana Assunção sobre edição brasileira

"Um livro que entra de cabeça nos debates sobre o amor livre após 1917”

Parceria entre Edições ISKRA e a editora Boitempo trará publicação inédita para o Brasil sobre as conquistas dos direitos e libertação das mulheres nos primeiros anos após a tomada do poder na Rússia em 1917 e a política do partido bolchevique neste âmbito. “A mulher, o estado e a revolução” é fruto de uma pesquisa da historiadora norte-americana Wendy Z. Goldman e foi publicado em 2010 em espanhol pelas edições IPS. A publicação brasileira terá o prólogo escrito por Diana Assunção, diretora do SINTUSP integrante de sua Secretaria de Mulheres, fundadora do grupo de mulheres Pão e Rosas Brasil e dirigente nacional da LER-QI. A tradução será de Natália Viskov, das Edições ISKRA. A seguir entrevistamos Diana sobre este novo lançamento.

Veja também o novo lançamento no site da Boitempo: http://www.boitempoeditorial.com.br/v3/titles/view/382


JPO: Qual a importância dos temas tratados neste livro?

Diana: Os temas tratados neste livro tem uma importância inédita porque transcendem a luta por igualdade de direitos, tratando dos problemas mais profundos de uma sociedade em transição entre o capitalismo e o comunismo, a partir da maior obra da classe operária mundial que foi a Revolução Russa de 1917. Já é bastante conhecido o fato de que a tomada do poder na Rússia significou um avanço sem tamanho em direitos elementares como a legalização do aborto e o direito ao divórcio – algo que democracias burguesas demoraram décadas para proporcionar às mulheres. Mas o livro “A mulher, o estado e a revolução” entra de cabeça nos debates mais vivos após 1917, quando os bolcheviques não somente tomaram nas mãos o poder de dirigir e construir uma nova sociedade, a partir de planificar a economia, mas também se propunham a pensar os temas relacionados ao combate à opressão às mulheres, uma vez em que ao contrário do que considerava o stalinismo, após a tomada do poder havia uma grande tarefa para consolidar a revolução rumo ao comunismo.

JPO: Qual contribuição você acha que este livro trará para o movimento de mulheres da esquerda brasileira?

Diana: Para nós das Edições ISKRA sem dúvidas o livro é um grande aporte ao movimento de mulheres brasileiro e planejamos fazer junto com a Boitempo grandes lançamentos no mês de março de 2014. O estudo pormenorizado sobre como passar as tarefas domésticas para o âmbito público, libertando as mulheres desta verdadeira “escravidão” como dizia Lenin, um dos dirigentes da Revolução Russa, é um dos pontos fortes do livro. Ao mesmo tempo, trata-se de uma publicação que alcança a profundidade de encarar temas como amor e sexo de um ponto de vista de classe, pensando concretamente como homens e mulheres podem repensar todo o modo de vida, costumes, organização familiar e relações a partir de bases materiais e econômicas totalmente diferentes das que proporciona a sociedade capitalista. O tema do amor livre, praticamente inexistente nos debates atuais da esquerda, é uma das principais investigações através de documentos que registraram reuniões entre os bolcheviques logo após a tomada do poder debatendo sobre o combate a relações que reproduziam a ideia de propriedade, opressão e submissão das mulheres.

JPO: Quais expectativas vocês tem para o lançamento?


Diana: O livro terá alcance nacional e esperamos organizar dezenas de lançamentos com trabalhadoras, estudantes, intelectuais nas principais capitais do país. Queremos discutir que a agrupação de mulheres Pão e Rosas não somente organize um estudo sobre este material, que pode significar um salto na compreensão teórica e estratégica na luta das mulheres, mas também contribuam em fazer chegar esta publicação entre as mulheres trabalhadoras, ecoando em todos os cantos do país.


Entrevista publicada no Jornal Palavra Operária publicado pela Liga Estratégia Revolucionária- Quarta Internacional, dezembro de 2013, n 100.  

SOMOS TODAS SUZANE! NÃO NOS CALAREMOS!


O machismo mata! Mata centenas de mulheres todos os dias. Suzanne quase foi uma delas. A estudante Suzanne, do 5º ano de historia da USP foi arremessada pela janela do 4º andar de apartamento da Vila Mariana, após chamar um cara de machista! Ela sofreu uma tentativa de assassinato e ainda assim a mídia e alguns setores da sociedade tentam atribuir a culpa a ela, sempre colando em dúvida seus depoimentos, questionando sua atitude e seu estado mental na noite do crime. Ouvimos recorrentemente frases como: “o que ela fez para ele fazer isso?”, “Você tem certeza que não fez nada?” ou “estava bêbada, né?”, mas sempre algo que remeta a dúvida quanto a veracidade de suas declarações. Quantas Suzanes não existem por aí? Da periferia de Diadema ao norte da Índia. Suzane não é um caso pontual, é mais uma nas estatísticas de mulheres agredidas e violentadas por homens, que na maioria das vezes, são seus conhecidos. É mais uma mulher sendo acusada, julgada e desacreditada depois de passar por uma tentativa de feminicídio. São milhões de mulheres, trabalhadoras, estudantes, moradoras das periferias, negras que mais sofrem com violência do machismo, de seus companheiros, de desconhecidos, da polícia, do patriarcado. São centenas de mulheres mortas todos os dias e ainda há quem diga que a culpa é nossa! E por muitas vezes essa culpa é incorporada por nós, dificultando mais ainda o processo de superação de uma violência. E quando somos agredidas, a quem procuramos? A polícia que mata, reprime e forja crimes todos os dias nas periferias? A polícia que não leva em conta o depoimento de Suzane na hora de abrir o inquérito? Não precisamos de mais delegacias que só servem para reproduzir a lógica machista, racista e higienista de nossa sociedade.

A violência contra a mulher não é individual e somente através de nossa organização e acreditando na união com todos os trabalhadores é que podemos ter perspectiva de emancipação. Menos polícia e mais casas abrigos para mulheres e seus filhos, formação de comissão de mulheres em sindicatos, organizações de bairro e entidades estudantis para combater efetivamente a violência de nossos dias.

Estamos com você Suzanne! . Que o seu agressor não saia impune da violência cometida, assim como tantos outros! Você não se calou e nós também não nos calaremos! Força!

Que as outras Suzanes que existem por ai, também se levantem. Utilizando das palavras da própria Suzanne: “- Não esperem que te lancem em queda livre, mas caso aconteça, aproveite a brisa e aprenda a voar!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Mulher e Revolução: entrevista com a historiadora Wendy Z. Goldman

Entrevista publicada no blog da Revista Ideas de Izquierda – Revista de Politica y Cultura http://ideasdeizquierda.org

tradução de Ana Carolina Fulfaro, do Pão e Rosas Marília




Entrevistamos a historiadora norte-americana Wendy Z. Goldman sobre a política bolchevique acerca da libertação das mulheres durante os primeiros anos logo após a tomada do poder em Outubro de 1917. A autora resume alguns dos esforços para modificar as condições materiais que seriam a base da emancipação das mulheres. Em sentido oposto às políticas implementadas pela burocracia stalinista mais tarde, o bolchevismo questionará - alimentado pelas forças da revolução proletária - as hierarquias da velha sociedade burguesa e de suas instituições.

Ideias de Esquerda: Nos primeiros capítulos do livro A Mulher, o Estado e a revolução, um dos temas centrais são as inovações da Revolução Russa em relação aos direitos civis, especialmente para as mulheres. Para você, quais foram as mais importantes?

Wendy Goldman: Naquela época, em 1918, os direitos mais importantes para as mulheres incluíram a igualdade perante a lei, o direito ao divórcio e o direito ao aborto legal e gratuito. Estes direitos eram essenciais para a independência das mulheres de instituições patriarcais como a Igreja Ortodoxa e outras autoridades religiosas, e do controle de seus pais e esposos. A igualdade perante a lei deu as mulheres o direito a controlar seus salários e suas propriedades, a lutar pela guarda de seus filhos em caso de divórcio, e decidir onde viver, estudar e trabalhar. Esses direitos não existiam antes da revolução. Hoje, em muitas partes do mundo, as mulheres ainda não gozam destes direitos civis básicos ou de igualdade com os homens. Creio que os direitos civis elementares – o direito de serem tratadas em igualdade de condições com os homens em termos do emprego, participação política, educação, papéis sociais, oportunidades – ainda são problemas urgentes. Sob o capitalismo, o direito a um salário digno é um direito essencial para ambos os sexos. Se os homens e as mulheres de todo o mundo gozassem de direitos básicos ao emprego e a um salário que lhes permita sustentar a suas famílias, muitos dos problemas sociais atuais desapareceriam.

IdE: Além dos direitos formais, os bolcheviques acreditavam que a libertação das mulheres seria impossível se não fosse socializado o trabalho doméstico. Este é um enfoque muito interessante, inclusive ainda hoje continua sendo um debate dentro do feminismo (marxista ou não marxista). Por que você acha que se focaram nesse problema?

WG: Os bolcheviques se focaram na socialização do trabalho doméstico porque acreditavam que a libertação das mulheres dependia da autonomia econômica e financeira em relação aos homens. Se uma mulher tinha que depender de um homem para mantê-la, sua capacidade para escolher e tomar suas próprias decisões seria limitada pelo controle econômico. Além disso, os bolcheviques acreditavam que a responsabilização pelo trabalho doméstico era um obstáculo tanto ao ingresso das mulheres ao trabalho assalariado em igualdade com os homens, quanto para alcançar a igualdade de oportunidades na educação. Para alcançar a igualdade na esfera pública, as mulheres deviam ser libertadas da carga desigual do trabalho doméstico que pesava sobre elas. Limpar, fazer as compras, lavar a roupa e cuidar dos filhos pequenos, em síntese, todo o trabalho não remunerado que Marx definiu como “reprodução da força de trabalho”, cotidianamente, consome uma grande quantidade de tempo. Os bolcheviques esperavam libertar as mulheres dos aspectos mais monótonos e pesados deste trabalho para lhes permitir participar inteira e ativamente da sociedade. Realizaram muitos estudos sobre o trabalho e o tempo, sobre a quantidade de horas diárias que as mulheres e homens da classe trabalhadora dedicavam ao trabalho doméstico. O que constataram é que depois do trabalho, os homens liam jornais enquanto as mulheres lavavam roupas. Socializavam com amigos enquanto as mulheres cuidavam das crianças. Jogavam xadrez enquanto as mulheres cozinhavam, limpavam e faziam as compras. Resumindo, os homens podiam se desenvolver como seres humanos enquanto as mulheres serviam à família (e aos homens). A solução bolchevique foi socializar o trabalho doméstico o quanto fosse possível: criar restaurantes públicos, construir lavanderias, criar creches e reduzir o trabalho doméstico ao mínimo. As pessoas que trabalhavam em empresas, tanto homens quanto mulheres, tinham bons salários e seriam respeitados como trabalhadores. O trabalho doméstico, ou uma boa parte dele, seria socializado e remunerado. As mulheres seriam livres para procurar trabalho, se educar e desfrutar do tempo livre em igualdade com os homens. Os bolcheviques tiveram uma excelente ideia, ainda que o Estado fosse pobre demais para transformá-las em realidade.

IdE: É importante destacar que os bolcheviques tiveram uma política aberta sobre as relações pessoais, especialmente considerando o atraso social e cultural da Rússia. Porque acredita que decidiram incluir o amor livre e o questionamento das relações hierárquica entre pais e filhos?

WG: A ideia do “amor livre” data de vários séculos atrás. Tem muita história! Muitos movimentos por justiça social, incluindo as primeiras seitas cristãs sonharam com a ideia de amor livre de condicionantes econômicos. Os bolcheviques vieram de uma longa linha de pensadores socialistas, socialistas utópicos e marxistas, que buscavam criar vidas melhores e mais livres para as mulheres. Também foram conscientes, há muitos anos, da necessidade dos “direitos das crianças”, ou o direito da juventude a se libertar da tirania e do poder abusivo de seus pais. Em uma cultura patriarcal, os pais exerciam um controle tremendo sobre as mães e crianças. Tomavam as decisões sobre o matrimonio, a educação e o trabalho. Os bolcheviques queriam abolir o controle a favor dos direitos do indivíduo, do ser humano. Ao chegar ao poder depois de uma revolução, e com esperanças de construir um mundo novo, muitos juristas, educadores e outros sonharam com novas possibilidades. Eles questionaram as hierarquias de todo tipo, não somente aquelas dentro da família. O Exército Vermelho foi reconstruído sob novas regras mais democráticas em termos das relações entre oficiais e soldados. As escolas tornaram-se mistas, e os professores, estudantes e trabalhadores criaram soviets para governa-las. Os juristas discutiam o “desaparecimento” da lei e do Estado e faziam leis destinadas a incentivar esse objetivo. Inclusive desafiaram as hierarquias na arte e na música. Na década de 1920, os músicos soviéticos experimentaram uma “orquestra sem diretor”. Foi um momento de grande nivelamento e de experimentação apaixonante em todas as áreas da vida.

IdE: Uma das conclusões de seu livro é que a inversão realizada pela burocracia stalinista não foi somente material (considerando a difícil situação econômica) mas também ideológica. Quais são as bases centrais dessa discussão?

WG: Muitas das tentativas bolcheviques de criar mais liberdade para as mulheres enfrentaram a pobreza e a miséria criada por anos de guerra civil. A década de 1920 foi um período de alto desemprego, especialmente para as mulheres. A ideia da independência feminina não podia se realizar simplesmente facilitando o divorcio porque as mulheres não tinham como sustentar a si e a seus filhos. Muitas delas tinham que manter também seus pais e familiares idosos ou deficientes. No entanto, a atitude do Estado com a libertação das mulheres se transformou exatamente no momento em que se iniciou a industrialização e que a União Soviética se transformava em uma sociedade de pleno emprego.
Uma grande quantidade de mulheres ingressaram no mercado de trabalho nos anos 30, muitas com bons salários e em postos industriais. Era precisamente nesse ponto que a libertação das mulheres poderia ter sido realizada. Apesar do Estado soviético incentivar firmemente a educação, capacitação e emprego das mulheres, e criar um sistema massivo de creches e restaurantes públicos, também realizava uma inversão ideológica dos papéis de gênero tradicionais dentro do lar. Além das mulheres trabalharem passaram a ser estimuladas a assumir a completa responsabilidade de criar espaços domésticos acolhedores.
O Estado criminalizou o aborto em 1936 e dificultou a realização do divórcio. Nesse sentido, o Estado stalinista adotou um híbrido de participação feminina na força de trabalho junto com os papeis de gênero tradicionais na família. A criminalização do aborto representou um peso terrível e perigoso sobre as mulheres, que continuaram realizando abortos, mas na ilegalidade. Os hospitais se encheram de mulheres com hemorragias e terríveis infecções. A taxa de aborto caiu momentaneamente em 1937, mas logos subiu rapidamente outra vez; as mulheres sempre tentaram controlar sua fertilidade (é algo essencial para poder escolher livremente e tomar decisões sobre suas próprias vidas). O resultado foi que as mulheres, privadas do direito ao aborto legal e seguro, seguiram abortando, mas recorrendo a métodos perigosos.

IdE: Finalmente, gostaríamos de saber sua opinião sobre a participação das mulheres nas mobilizações que vem se desenvolvendo ao redor do mundo.

WG: Marx, Engels, August Bebel, Clara Zetkin, Lenin, Alexandra Kollontai, e muitos outros pensadores socialistas acreditavam que o trabalho assalariado criava condições para a emancipação das mulheres. Um salário independente libertaria as mulheres da família como unidade econômica e forneceria as bases para sua independência econômica, que por sua vez, lhe permitiria decidir livremente. Creio que esses pensadores tinham razão essencialmente. Hoje, porém, é necessário muitas batalhas, inclusive nos países industrializados e pós-industriais. Em muitos lugares, as mulheres trabalham, mas não tem acesso a um salário digno. As ideias sobre os papeis da mulher na família, as mulheres como objeto sexual, e o não respeito às mulheres como pessoas, são aspectos que ainda devem mudar.
Apesar disso, as mulheres são ativas em todos os âmbitos de uma forma nova e apaixonante. Exigem castigo aos agressores na Índia, reivindicam educação para as meninas no Afeganistão. Na Arábia Saudita reivindicam seu direito a dirigir. Também na América Latina existem novas lutas e reivindicações. Meus filhos alcançaram a maioridade numa nova era. Acreditam que os jovens, sem importar o gênero, possuem os mesmos direitos e oportunidades. Apoiam o direito das pessoas em escolher sua orientação sexual e casar com quem queiram. É claro que eles terão de enfrentar muitos dos mesmo problemas que sua mãe: como combinar o trabalho e a família, como criar um lar amoroso, em que os homens se comportem de forma igualitária dividindo as tarefas domésticas e se ocupando do cuidado das crianças. Lutamos estas batalhas, mas creio que as novas gerações vão fazer melhor do que nós. Nossas meninas vão exigir mais. E assim as coisas se transformarão.

Entrevista: Celeste Murillo.

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WENDY GOLDMAN

É historiadora social e política, especializada em Rússia e União Soviética. É autora de A mulher, o Estado e a revolução (publicado em castelhano pelas Edições IPS, 2010), que foi considerado no momento de sua edição, em 1994, o melhor livro da história escirto por uma mulher nos Estados Unidos. Também é autora de Terror e Democracia na era de Stalin. Dinâmicas sociais da repressão; Mulheres as portas: gênero e indústria na Russia de Stálin. Seu último trabalho publicado foi Íntima traição, um livro que aprofunda no comportamento e a psicologia dos cidadãos soviéticos durante o período do terror estalinista.



Carta aberta da Suzane Jardim



Hoje é dia 05 de dezembro. Aniversário de 21 de uma das pessoas que mais amo em minha vida, minha irmã Suzi. Mas não passarei a data ao lado dela e sim, lembrando de como agora há pouco o Seu Sebastião, velhinho boa praça que chegou ontem, morrer no leito ao meu lado após mais de uma hora de esforço médico. Ele foi o segundo que vi falecer desde que fui internada no dia 30 em estado gravíssimo. Após ser jogada do quarto andar de um prédio... Mas esse texto não é sobre meu dia a dia no hospital, toda a minha dor e tudo que perderei nos dias longos que ficarei aqui. O assunto é outro. Vamos a ele:
Uma bela noite resolvi transar com um homem que eu já havia ficado duas vezes. Senti vontade/tesão e essa é a minha única justificativa e acho que é boa o suficiente pois era algo mútuo e só dizia respeito a nós dois. Após uma longa noite, resolvi confrontar o homem por seu agir, sua fala desrespeitosa, direcionada a mim e a outras mulheres, suas ameaças e sua fala possessiva.
Não foi romântica a nossa primeira vez. Não houve uma discussão frutífera de como ele era uma arma opressora criada pelo patriarcado. Não mandei o meu recado como queria. Apenas cai da janela do quarto empurrada por ele.
Sou solteira. Fui mãe aos 17 anos. Não tenho vontade de casar. Não sou hétero. Sou negra. Desempregada. Tenho problemas psiquiátricos. Falo alto. Danço na rua. Bebo. Fumo. Gosto de sexo. Sou mulher – Se eu não soubesse que ser uma mulher com algumas ou todas essas características faz com que pessoas por aí pensem: “ Deve ter feito algo para o cara ter feito isso” “A história esta mal contada” “ Ela não é santa, deve ter merecido” esse texto não teria porque ser escrito.
Sou um número apenas. Estatisticamente falando, não represento nada. Sei que milhões de mulheres no mundo são humilhadas, oprimidas, violentadas e mortas todos os dias. Sei que ainda mais. Sei que a sociedade contraditoriamente classifica o cara que amamos, casamos, vivemos, transamos desejamos, de “criminoso passional” após ele ter se tornado nosso estuprador, violentador, opressor, assassino (ou quase assassino no meu caso), somente monta um leito confortável e longe dos holofotes para o machismo se esconder – o machismo serve ao sistema e vice-versa e o amor, esse não mata nem oprime.
Entenda a diferença:

1- Jogar qualquer ser humano da janela de um prédio constitui tentativa de homicídio
2- Jogar uma mulher com qual você homem acaba de transar da janela de um prédio, exatamente no momento em que ela joga seu machismo em sua cara e demonstra não ter medo de você na frente de outra mulher é tentativa de homicídio, sexismo, demonstração de superioridade masculina, ameaça para garotas presentes, crime de ódio.

Machismo, isso sim mata e vai continuar fazendo se não gritarmos e lutarmos por nosso simples direito de não sermos violentadas e mortas impunemente.
Autorizei e pedi que amigxs e familiares divulgassem ao máximo meu caso pois vi nele, na improbabilidade da minha sobrevivência e na monstruosidade desse crime, a chance de abrir seus olhos, mulher.
Se você também quer o direito de contestar o que te dói, se quer respeito de seus amigos e parceiros, se quer apenas igualdade, o direito de ser alguém livre e digna, saiba que você o tem desde que nasceu com garantia de que não será exterminada!
Meu direito foi tomado sem permissão e várias liberdades que tinha foram restritas por esse ato: estou presa a uma cama de hospital, com movimentos ultra limitados, fraturas de estado grave, não posso ver ou falar com meu filho, tenho que usar fraldas, após a operações – o que levará meses – carregarei sequelas para toda a vida...Mas sobrevivi e nunca mais me calarão ou poderão tentar achando que minha voz se perderá ao se encontrar com a de milhões.

Não aguarde os extremos!
Imponha-se! Se expresse!
Denuncie! Faço-os ver que não aceitaremos mais o machismo passivamente!
Que a justiça e a lei pensem na mulher!
Sobreviva e lute!

Chorei de alegria em saber que as páginas que curto, pessoas que admiro etc ajudaram o caso a se tornar público. A TV e outras mídias podem fazer suas edições, mas essa carta foi feita para mostrar minha real intenção, minhas reais alegrias e quem realmente agradeço: Quem esta comigo na luta – MACHISTAS NÃO PASSARÃO!
Confesso que não iniciei isso com otimismo ou pensando que teria uma hashtag com meu nome, mas já que assim foi, só agradeço e deixo o último recado amigo a todas as mulheres, amigas e companheiras:
- Não esperem que te lancem em queda livre, mas caso aconteça, aproveite a brisa e aprenda a voar!

Suzane Jardim

No dia 21 de novembro a FAFICH/UFMG foi palco da mulher negra!

Por Iaci Maria

No último dia 21 de novembro, como atividade da semana da Consciência Negra e do dia de combate à violência contra a mulher (25/11), o grupo de Mulheres Pão e Rosas realizou conjuntamente às Secretaria de Mulheres e LGBTTI e de Questão Negra do CAFCA, pela gestão Jornadas de Junho, duas importantes rodas de conversa sobre violência contra a mulher negra. Contou com as mesas compostas por Letícia Parks, ativista negra de São Paulo e militante do grupo de Mulheres Pão e Rosas e da LER-QI; Taynara Marques, militante do Pão e Rosas, que compõe a Secretaria de Questão Negra do CAFCA; Firmínia e Izabella, militantes do PSTU, pelo Movimento Mulheres em Luta (MML) e Miriam Alves, militante do Coletivo de Estudantes Negrxs da UFMG (CEN).

Entre as duas atividades (diurno e noturno), passaram cerca de 80 pessoas, sendo a da manhã a atividade mais cheia da semana da Consciência Negra da UFMG. Letícia fez sua fala dando bastante enfoque na questão de que é necessário que se lute pela demandas democráticas, como junho já mostrou, sendo as do povo negro as mais urgentes! Porém, as conquistas do povo negro não serão garantida apenas através de reformas, dando o exemplo da PEC das domésticas, que garante os direitos trabalhistas básicos à essas trabalhadoras, mas esse continua sendo um trabalho precário realizado em sua maioria por mulheres negras, sendo o Brasil o país que mais emprega esse tipo de serviço. A luta do povo negro, fundamental para o avançar da luta de classes no Brasil, deve se dar ao lado dos trabalhadores, classe essa fortemente composta por negras e negros, no combate a esse sistema que oprime e explora mulheres negras com “excelência”. Denunciou fortemente o governo PT, o grande responsável por todas as demandas reivindicadas nas ruas em junho, como o direito ao transporte, saúde, educação, ou seja, contra a precarização da vida, que afeta diretamente o povo negro; e também o papel da polícia na sociedade, verdadeiro agente do genocídio da juventude negra!
Taynara colocou em questão a Universidade de “excelência”, que com seu machismo e racismo institucional, aplica trabalho terceirizado, precário, que afeta majoritariamente as mulheres negras. Retomou exemplos como o trote racista no Direito no começo do ano, e o silêncio da reitoria com relação ao racismo; e também a produção de conhecimento a serviço de empresas como a Vale, que utiliza essa tecnologia desenvolvida na Universidade para melhor explorar os negros na África. Defendeu o fim do vestibular como único meio para que toda juventude negra, trabalhadora, pobre, tenha acesso ao ensino superior, e lembrou que desde o começo, o programa da chapa Jornadas de Junho (atual gestão majoritária do CAFCA) já defendia a efetivação de todos os terceirizados sem necessidade de concurso público. Lembrou também a opressão que a mulher negra sofre devido ao padrão de beleza europeu que impõe o cabelo liso e o nariz fino.
Desde o MML, as falas passaram por tocar também que a violência contra a mulher negra vem desde a miscigenação, que se deu através dos estupros de escravas negras pelos senhores brancos. Colocaram sobre o recorte de classe que há nas opressões às mulheres e aos negros, sabendo que as mulheres negras são maioria dentre os trabalhadores e pobres, e que é preciso se ligar à classe operária para vencer o racismo e o machismo.
Miriam, pelo CEN, falou enquanto mulher negra que foi recentemente agredida dentro da universidade, reforçando que fazia a denúncia pois as mulheres não podem se calar frente a essas situações, e devem se apoiar na sua própria organização para responder a tais situações, já que as reitorias já se calam frente a opressão existente dentro do campus.
Aberta a discussão à roda de conversa, a discussão permeou temas como o combate à violência contra a mulher, retomando o exemplo das mulheres indianas, que se organizaram em centenas e saíram às ruas após os estupros coletivos em ônibus na Índia virem a tona, exigindo punição aos estupradores e dizendo basta à essa violência. Tal violência, infelizmente cotidiana, não pode ser combatida com exigências de mais delegacias de mulheres, que significa exigir mais polícia, mas através da auto-organização das mulheres junto aos trabalhadores, pela conformação de secretarias e comissões de mulheres nas entidades estudantis e sindicatos, organizações de bairro, independentes, e com a criação de casas-abrigo para as mulheres e seus filhos, sem polícia, sob controle dessas mulheres.
Desde a Secretaria de Mulheres e LGBTTIs do CAFCA, foi colocada sobre a violência aos LGBTTIs, principalmente às mulheres trans*, que somente por se colocarem como trans* são uma afronta à sociedade, estando sujeitas aos mais diversos tipos de violência física, moral, estupros corretivos, além de estarem relegadas aos trabalhos mais precários, muitas vezes à prostituição, e possuírem expectativa de vida de apenas 35 anos. Lembraram o ataque à companheira Kathalina Friedman, no Chile, militante trans* do Pan y Rosas Chile, que foi espancada por 10 homens dentro da própria casa. Colocaram que para combater tal violência, desde o movimento estudantil, é necessário que haja entidades militantes, que rompam com o rotineirismo e o autonomismo, e se coloquem a perspectiva combativa de se ligar aos trabalhadores de dentro e fora da Universidade, no combate consequente às opressões.

Houveram importantes e emocionantes saudações de operários fabris, militantes do Pão e Rosas e da LER-QI, que saudaram a oportunidade de participarem de uma atividade tão importante como aquela, e que isso era a concretização do papel fundamental que os estudantes e as entidades estudantis podem cumprir: a aliança operário-estudantil.

No dia 02 de dezembro, fizemos também uma importante reunião aberta de apresentação da agrupação, para colocar a importância da organização das mulheres desde uma perspectiva revolucionária, classista e antigovernista, ligada aos trabalhadores, aos negrxs e LGBTTIs, no combate consequente à todas as formas de opressão e exploração, na luta pela emancipação dos setores oprimidos, dos trabalhadores, e de toda humanidade! Chamamos todas e todos que participaram dessas atividades e que vem acompanhando as atividade do Grupo de Mulheres Pão e Rosas, a nossa atuação dentro do Movimento Mulheres em Luta e também como parte da gestão majoritária do CAFCA, a conhecerem nosso grupo, se aproximarem e discutirem conosco!

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

BASTA DE VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES








DECLARAÇÃO DO GRUPO DE MULHERES PÃO E ROSAS SOBRE O DIA INTERNACIONAL DE COMBATE A VIOLÊNCIA À MULHER.

 A violência contra as mulheres é uma triste e revoltante realidade. O IPEA publicou uma pesquisa que afirma que em dez anos ocorreram 50 mil feminicídios (sem considerar o número de assassinato a travestis e transexuais) significando que a cada 1h30 uma mulher é assassinada, sendo a maioria jovens e negras. À cada 12 segundos uma mulher é estuprada, e graças aos acordos do Estado com as bancadas religiosas avançam para naturalizar o estupro através do Estatuto do Nascituro (Bolsa Estupro!), proibindo a realização do aborto nos casos onde este já era legalizado. Sem contar as milhares de mortas por abortos clandestinos todos os anos, que na sua maioria são negras, pobres e trabalhadoras, pois não podem pagar por uma clínica clandestina. E quando querem ser mães, o Estado, governos e patrões nos impedem de exercer plenamente o direito à maternidade, pois não garantem creches para nossos filhos, negam a licença maternidade e um sistema de saúde público, gratuito e de qualidade, somos exploradas nos locais de trabalho, através da precarização e terceirização, e angustiamos todos os dias esperando que nossos filhos e maridos voltem para casa seguros(ou ilesos) e não sejam mais uma vítima de agressão policial como Amarildo e Douglas barbaramente assassinados pela PM.

        As mulheres têm que se enquadrar no papel da “boa esposa, mãe e dona de casa” e quando não são, são classificadas como “putas”. Quando estupradas, somos questionadas sobre as vestimentas que usávamos. Somos violentadas nos locais de trabalho através dos assédios sexual e moral. Ainda somos as que temos nossos corpos mercantilizados, vítimas do trafico de mulheres e da prostituição.

        A realidade das mulheres lésbicas e trans também é ainda mais gritante no país mais homofóbico do mundo, onde não podem exercer livremente sua sexualidade e construção de gênero. São vários assassinatos, espancamento, mutilações sem registros ou estatísticas, e ataques da bancada reacionária, através da Comissão de Direitos Humanos que tenta aprovar projetos como o “Cura Gay”, enquanto seguimos com a identidade trans classificada como disforia de gênero.
 
        Em mais de dez anos de governo Petista, sendo os últimos quatro, com uma mulher a frente, não apenas não avançamos em nossos direitos, como a possibilidade do Estatuto do Nascituro, conhecido como Bolsa Estupro, nos faz caminhar pra trás na luta pelo direito ao aborto. O feminicidio, a precarização da vida, a transfobia que também é uma violência de gênero, a naturalização do estupro, são de inteira responsabilidade de um governo de promessas vazias que vendeu nossos direitos em troca de votos e acordos com setores mais conservadores do parlamento e se alia com os grandes capitalistas que precisam da opressão as mulheres para manter seus lucros.

        São diversas as formas de violência contra as mulheres sendo o feminicídio o extremo dessa cadeia que é perpetuada pela ideologia patriarcal e pelo sistema capitalista com sua moral burguesa e machista que faz das mulheres objetos sexuais e obrigadas a exercer uma sexualidade heteronormativa, sendo a reprodução da vida com trabalho doméstico e a maternidade um “destino natural”. A violência contra as mulheres é parte estruturante do capitalismo e divide a classe trabalhadora. Cada vez que uma mulher é violentada, estuprada e assassinada, a classe trabalhadora inteira dá um passo atrás na luta pela sua libertação e contra seus verdadeiros inimigos, a classe burguesa. A violência tida como doméstica, não pode ser encarada como algo do âmbito privado e sim social, que precisa ser combatida em sua raiz e não na luta entre as mulheres contra os homens.

        A lei Maria da Penha foi um avanço ao escancarar que a violência não é uma questão fechada entre quatro paredes e trouxe uma série de medidas de proteção estatal para as mulheres. Mas não podemos ter ilusões no Estado e na justiça burguesa, pois por mais progressista que sejam as leis, não são capazes de modificar esta realidade estrutural. Não foram poucas as vezes que Eliza Samúdio ou Mara Rúbia buscaram a delegacia de mulheres e foram ignoradas, humilhadas até serem silenciadas de vez. Não podemos confiar que a polícia que mata e reprime todos os dias é capaz de proteger as mulheres da violência.  A violência não é um problema individual somente nos organizando poderemos dar um basta à violência doméstica, psicológica e estatal que nos atinge!

        Discordamos das feministas governistas da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), que exaltam a chegada de Dilma no poder, como o avanço nas leis e confiança no estado burguês levará à emancipação das mulheres. Falam de um mundo mais justo e democrático, mas é essa mesma democracia de Dilma em aliança com os empresários, a Igreja e a bancada reacionária, que mantém as tropas brasileiras no Haiti que reprimem e estupram as mulheres haitianas à serviço dos países imperialistas e se silenciam diante de tantas mortes por abortos clandestinos.  Também discordamos das companheiras do PSOL que tratam a questão da violência como uma mera questão de reivindicação de serviços estatais de denúncia e repressão aos agressores eficientes. E fazemos um debate sincero com as companheiras do PSTU, como fizemos no I Encontro Nacional do MML em outubro deste ano, que não podemos limitar a luta contra a violência as mulheres através da exigência ao governo Dilma pela ampliação e aplicação da lei Maria da Penha, levando à ilusão que essas leis bem aplicadas podem dar um basta à violência.
Tampouco que podemos ter ilusões nas instituições burguesas, reivindicando mais delegacias de mulher, uma vez, que as marchas de Junho que mudaram nosso país denunciavam o papel nefasto da polícia, a mais assassina do mundo, que torturou, matou e reprimiu greves.
Tomamos como exemplo não uma mulher no poder, mas as centenas de indianas que saíram as ruas organizadas para combater a violência e os estupros!

        A luta contra a violência as mulheres deve ser tomada pelo conjunto da classe trabalhadora e juventude, através de suas organizações como o sindicatos, entidades estudantis e organizações de esquerda e contribuam para que homens e mulheres lutem juntos contra a opressão as mulheres e exploração e impulsionem uma campanha nacional ampla contra a violência as mulheres. E também tomem para a si a luta contra a homo-lesbo-transfobia!
       
Somos todas Mercia, Camile, Eloá, Eliza! Somos Kathalina Friedman, ativista transexual chilena, brutalmente espancada no dia 15 de novembro por dez indivíduos organizados na porta de sua casa! Somos Mara Rúbia que teve os olhos furados por apenas querer seguir sua vida longe “dele”! Somos tantas meninas e adolescentes vítimas do assédio sexual dentro das escolas cometidos pelos professores e alunos!
       


        Por uma campanha nacional contra a violência contra as mulheres impulsionada pelos sindicatos, organizações de esquerdas, entidades estudantis, grupos de mulheres e direitos humanos.
        Basta de mulheres mortas por abortos clandestinos! Abaixo à Bolsa Estupro! Aborto legal, seguro e gratuito!
        Basta de homofobia e assassinatos de TRANS* e lésbicas!
        Pela Livre Sexualidade e Construção de Identidade de Gênero!
        
Refúgio e casas transitórias para mulheres vítimas de violência e seus filhos e filhas, garantidos pelo Estado e sob controle das próprias vítimas, organizações de mulheres e trabalhadoras, com profissionais e sem a presença da polícia e da justiça burguesa. 
        Criação de comissões de mulheres, independentes dos patrões, que deem atenção aos casos de assédio sexual e trabalhista ou de casos de discriminação às trabalhadoras, avançando para uma verdadeira democracia operária onde @s trabalhador@s debatam e decidam inclusive os casos de punição.
        Subsídios de acordo com o custo de vida para as vítimas de violência que estejam desempregadas, acesso à moradia e trabalho para todas.
        Licenças remuneradas para as trabalhadoras que atravessam situações de violência, com acesso à saúde pago integralmente pela patronal.
         Exigimos prisão nos casos de estupro, mutilação e assassinato e confisco das grandes fortunas pois sabemos que muitos são empresários ligados ao tráfico de mulheres e redes de prostituição, para que seja revertido em mais investimentos para o combate a violência as mulheres, travestis 

domingo, 24 de novembro de 2013

JUSTIÇA PARA TODAS AS KATHALINAS! BASTA DE AGRESSÕES À TRAVESTIS!




Por Virginia Guitzel e Marie C,
 ativistas LGBTTI e militantes do Pão e Rosas e Juventude ÁS RUAS.


Na sexta-feira, dia 15 de Novembro, Kathalina Friedman, militante TRANS* do grupo de mulheres Pan y Rosas, ativista LGBTTI da agrupação A quemar el Closet e revolucionária do Partido dos Trabalhadores Revolucionários (PTR, organização irmã da LER-QI no Chile) foi brutalmente agredida por 10 homens (provavelmente organizados) à sua espera, na porta de casa. Com grandes lesões, traumatismo craniano leve e fratura nasal, foi encontrada pelos vizinhos, e levada ao hospital por militantes da agrupação Pan y Rosas, após o abandono pela polícia.

Numa das cidades mais conservadores do Chile, Antofagasta, ocorre mais um caso de agressão as travestis. Felizmente, dessa vez, não foi silenciado. Com fortes mobilizações e desde onde estamos impulsionando campanhas a nível internacional, faremos a voz de Kathalina ecoar a voz de milhares de travestis e transexuais mortas, torturadas, mutiladas todos os dias, pela polícia, por grupos nazifascistas, por seus companheiros ou por “clientes da prostituição”. Dar voz e nomes aos casos das travestis assassinadas em BH no começo de Setembro, as denuncias publicas de Luisa Marilac, da travesti de Guarulhos assassinada com 20 facadas no rosto e teve seu penis cortado e que nada se ouviu falar.
O caso de Kathalina Friedman não pode ser encarado apenas como mais um caso de transfobia, mas como um ataque político a uma referencia revolucionária que cotidianamente luta pelo fim do genocídio as mulheres trans*, pelo direito ao próprio corpo, pelo fim da herança da ditadura pinochetista e pela separação da igreja do Estado. Por isso enviamos nossa solidariedade a companheira e nos colocamos na linha de frente para colocar uma enorme campanha pela punição imediata desses covardes, e desde já abrindo um importante debate sobre o combate a violência as TRANS*. 

Para assinar o abaixo assinado envia teu nome para: panyrosastf@gmail.com
Acompanhe a luta apor Justiça para Katha http://justiciaparakatha.wordpress.com


Violência as mulheres TRANS* também é violência de gênero.

Nesse dia 25 de Novembro, dia internacional do combate a violência da mulher, devemos levantar a bandeira das mulheres lésbicas, travestis e transexuais que frequentemente são omitidas pelas organizações de esquerda e movimentos feministas. A luta contra o machismo não se separa do combate intransigente a transfobia, homofobia e o racismo que atinge diretamente as mulheres negras e lésbicas.

O sistema capitalista que se apropria das opressões como maneira de aperfeiçoar sua dominação de classe, proíbe nossa livre construção de sexualidade e de identidade de gênero, pois organiza-se para o lucro, em busca de intensificar a exploração proibindo nosso livre desenvolvimento, utilizando-se da educação burguesa (ensinada nas escolas e produzida e reproduzida nas universidades) para naturalizar a heteronormatividade e as identidades  não TRANS* para assim criar “policiais” dentro da sociedade que combatam cotidianamente a liberdade sobre nossos próprios corpos e mentes.

Encarar a violência contra as TRANS* como parte da luta anticapitalista é a única maneira de encarar seriamente uma triste realidade social. A perspectiva de vida de nós travestis e transexuais permanece apenas de 35 anos. As causas de não envelhecermos são diversas: a perpetuação da visão de doença sobre nossa construção de gênero restringe nosso acesso a saúde, impondo a falta acompanhamento no uso de hormônios, o uso de silicone industriais, a exclusão escolar e a precarização do trabalho, quando escapamos da prostituição, o alto índice de doenças sexualmente transmissíveis pelas condições impostas pela prostituição, estupros e falta de acesso a preservativos, o ódio incentivado pelas bancadas religiosas desde o Parlamento (No Brasil, Marco Feliciano, Jair Bolsonaro, Silas Malafaia e tantos outros são símbolos da homofobia) e os ataques de grupos nazifascistas como os que cercaram covardemente Kathalina e tantas outras pelo país.

Nenhuma confiança no Estado e em suas instituições: Retomar Stone Wall.

O abandono da polícia para socorrer Kathalina Friedman não é uma surpresa para nenhum ativista LGBTTI, tampouco para a população negra que vive nas periferias cercada pelas UPPs, que sumiram com Amarildo e mataram Douglas Rodrigues, sem nem saber porque levou o tiro. A desconfiança nas forças armadas do Estado é parte de um instinto de sobrevivência. O combate a polícia, que não dissemina o preconceito, mas é o agente de milhares de mortes em todo o mundo, é parte da moral que resgatamos de Stone Wall.

A desconfiança na polícia nas massas travestis e transexuais é a base que temos que nos apoiar para evidenciar que tampouco outras instituições burguesas podem resolver a violência ou a marginalização que sofremos todos os dias. A lei Maria da Penha, há 7 anos implementada, demonstra como é insuficiente a batalha por leis como a PLC 122, que criminaliza a homofobia, pois a igualdade perante a lei, não significa a igual perante a vida, não a toa, todos os cidadãos possuem o mesmo direito “independente” se são donos de grandes propriedades ou se são trabalhadores precarizados. Essa “igualdade” é feita de papeis molhados da democracia dos ricos, que garante apenas ilusão e contenção das massas para que não lutem de fato pela transformação radical dessa sociedade.

Por isso, é preciso nos apoiar nos mais avançados exemplos do Movimento LGBTTI, desde as revoltas espontâneas como o caso de Stone Wall, quando em 1969, travestis e lésbicas lideraram a insurreição LGBTTI contra a polícia, prendendo os agentes do Estado capitalista dentro do bar que os LGBTTI frequentavam, colocando fogo e dizendo basta a repressão polícia homo-lesbo-trans-fobica que sofriam. Assim como a busca de grupos como FHAR (Frente Homossexual de Ação Revolucionária) na França e o grupo SOMOS que dividiu aguas no movimento LGBTTI brasileiro, ao se recusar a organizar um piquenique no Ibirapuera, em meio  ao acenso operário de 79, e se dirigiu a vila Euclides para apoiar a luta dos trabalhadores contra a ditadura, recebido por estes, com aplausos e assovios.

A necessidade da auto-organização: O papel dos sindicatos e entidades estudantis na luta contra a transfobia.

A única maneira de avançarmos de forma consequente no combate a violência é nos organizarmos na luta revolucionária por uma sociedade onde possamos ser plenos e nossa sexualidade e construção de identidade de gênero livres. Para isso, é necessário dar passos firmes para garantir nossa sobrevivência, segurança e fortalecer os organismos que podem retirar das mãos da burguesia e de seus aliados como a Igreja e os políticos corruptos o poder do Estado.

Nesse sentido, que nós desde o Pão e Rosas defendemos firmemente a necessidade da organização dos LGBTTI e de todos os setores oprimidos ligado a classe trabalhadora, retomando para si suas ferramentas políticas de organização, as entidades estudantis e os sindicatos para que possamos efetivamente propagandear cotidianamente a necessidade de forjar uma aliança de carne e osso entre os setores mais oprimidos da sociedade capitalista com a classe revolucionaria capaz de destruir o Estado capitalista e erguer um Estado operário, capaz de garantir as condições materiais para o fim de todas as opressões.

Somente constituindo desde já as bases para essa aliança, incentivando uma sensibilidade com os setores oprimidos no seio da classe trabalhadora, muitas vezes se enfrentando com os anos de hegemonia burguesa consolidados na propagando dos grandes meios de comunicação, do ensino burguês nas escolas e da reprodução em piadas, é que podemos avançar na luta dos setores oprimidos, rumo a revolução socialista.

 



INVESTIGAÇÃO E PUNIÇÃO JÁ! JUSTIÇA PARA KATHALINA FRIEDMAN! MAIS NENHUMA TRAVESTI AGREDIDA, MUTILADA OU ASSASSINADA!

POR COMISSÕES INDEPENDENTES DO ESTADO E DOS GOVERNOS, ORGANIZADAS POR MOVIMENTOS LGBTTI, DE MULHERES E NEGR@S JUNTO DAS ORGANIZAÇÕES DE ESQUERDA E DOS TRABALHADORES PARA INVESTIGAR E PUNIR OS AGRESSORES E ASSASSINOS!

QUE OS SINDICATOS E ENTIDADES ESTUDANTIS TOMEM PARA SI A BANDEIRA DOS SETORES OPRIMIDOS!

PELA SEPARAÇÃO DA IGREJA E DO ESTADO! BASTA DE ACORDOS E LEIS CONTRA OS LGBTTI, MULHERES E NEGR@S!

PELA LIVRE SEXUALIDADE E CONSTRUÇÃO DE GÊNERO!