segunda-feira, 20 de junho de 2011

BOLETIM PÃO E ROSAS DA ECONOMIA/UNICAMP




Onde estão os encantos?

            Muitos fatos que acontecem na sociedade nos passam despercebidos. Estamos tão acostumadas à mentira de uma sociedade livre e de iguais condições somada a uma visão fatalista de nossas vidas, que acabamos por naturalizar vários tipos de violência: fome, desigualdade, falta de acesso à água potável e rede de esgoto, analfabetismo, discriminação racial, xenofobia etc. A violência contra a mulher é uma delas: a mulher morta e esquartejada pelo companheiro, a mulher que fica paralítica vítima da violência doméstica, os vários casos de estupros, de abusos, de tráfico de mulheres são capazes de nos sensibilizar, geram ódio, raiva, pena, mas não são capazes de nos mobilizar. Por exemplo, em Campinas, conforme dados da Secretaria de Segurança de SP, só nos primeiros quatro meses desse ano, foram registrados 73 casos de estupro. No estado de SP, em 2011, já ocorreram 2699 casos! Esses dados são reflexos daquilo que ocorre diariamente, e é por nós, mulheres e homens, naturalizado ou banalizado.
Segundo a Unesco, uma em cada três ou quatro meninas é abusada sexualmente antes de completar 18 anos e segundo a ONU, uma em cada em três mulheres será espancada, violentada ou estuprada em algum momento de sua vida. Qual a razão desses dados bárbaros? Na nossa sociedade capitalista patriarcal em que tudo é transformado em mercadoria, desde os direitos elementares para sobrevivência humana até o próprio ser humano e suas relações, as mulheres são vistas pelos homens e por elas mesmas como uma propriedade masculina, um objeto, e não um sujeito independente (num sentido amplo que ultrapassa o conceito meramente financeiro englobando a sua independência plena com relação ao homem, à maternidade, à família), capaz de transformar a realidade. A Igreja, o Estado burguês, a mídia possuem um papel fundamental na difusão dessa visão de mulher enquanto objeto sexual, na qual se destaca o papel reprodutivo e o papel submisso de usufruto do homem. 
Essa ideologia que legitima e gera esses atos e esses números inadmissíveis é a mesma que se expressa nas Economíadas. O que a princípio pode parecer apenas um torneio esportivo despido de qualquer conteúdo ideológico revela, num olhar mais atento e crítico, o machismo, a homofobia e o elitismo ocultos. Na Economíadas Caipira do ano passado, vimos um exemplo escancarado (!) nos hinos divulgados em material oficial da Atlética, ou seja, nas músicas que resumem os objetivos e os valores dos estudantes de economia. “Pinga, maconha, mulher e baixaria/quem manda nessa porra é Unicamp economia”, “Ela diz que é gatinha, que seu peito é natural/Diz que sua bolsa Prada foi presente de Natal/Mas eu to ligada na pura realidade/Chupa rola e dá o cu pra pagar mensalidade/ Ela é puta graduada!”, “Aqui só tem coiote louco/Quero beber, quero cheirar/Cuidado biscatinha da Puccamp porque a fodeu vai te pegar!” ou “Essa é a escola que todos desejam, mas poucos conseguem entrar/Você que tentou e não conseguiu, vai pra puta que pariu!” são alguns exemplos dos hinos cantados. 2011 é mais um ano em que esses mesmos estudantes se animam para, nos jogos e nas festas, ostentarem “a melhor escola do Brasil”, cheia de encantos - mas só para os poucos vencedores que passaram no vestibular.
Essa visão está tão presente e tão arraigada nos homens e nas mulheres, que o fato de a Atlética ter uma presidente mulher não é capaz de alterar em nada o caráter machista e opressor das festas, como a festa da Senha; dos trotes, com concursos de miss e elefantinhos; dos eventos financiados e promovidos pela entidade cujo símbolo do coiote com a coiote fêmea estereotipada, dinheiro e cerveja está sempre presente.
Esse não é um fato isolado das Economíadas, está na maioria dos jogos universitários, independente das faculdades que os organizam. No InterUnesp do ano passado vimos a expressão máxima da barbaridade que permeia esses eventos com o “Rodeio das Gordas”, no qual os homens se aproximavam das mulheres que consideravam gordas, as empurravam no chão, montavam em cima e cronometravam quanto tempo conseguiam ficar sobre elas.
            É importante lembrar que tanto o InterUnesp, como as Engenharíadas, as Economíadas e outros desses eventos recebem financiamento de empresas privadas, tais como as de cerveja, cuja publicidade machista é difundida na mídia e nesses tipos de festas, e das reitorias das universidades. No IE sabemos que a Atlética já tentou realizar acordos com empresas como o SANTANDER em troca de publicidade para o banco no uniforme dos times e dentro do instituto, além de receber uma verba da diretoria para a realização das Economíadas.
            Ao passo que, quando há a tentativa de se contrapor a esse tipo de festa, construindo de forma politizada e consciente uma outra forma de sociabilidade, sem machismo, sem homofobia, sem hierarquia, se propondo a romper com toda a tradição tão reivindicada por essas entidades, como foi no caso do Festival Contra as Opressões promovido pelo DCE da Unesp no ano passado, a resposta dada pela reitoria são processos de sindicância aos alunos organizadores. No IE não é diferente, enquanto temos o auditório negado pela direção para a realização de ciclo de estudos de autores marxistas sob a alegação de que esse não é um assunto de relevância acadêmica, a Atlética tem as portas do auditório escancaradas para a realização do seu “Momento Economíadas”.
Diante de tudo aquilo que denunciamos nas linhas acima não cabe mais aceitarmos os discursos dos que nos dizem que essa é uma questão subjetiva, apenas uma brincadeira, que depende da interpretação individual. Esta é uma situação diante da qual não podemos mais nos calar, achando que é natural. É preciso rompermos o silêncio, é preciso denunciarmos essas atitudes, boicotando esses tipos de eventos, pressionando e discutindo politicamente com e nessas entidades para mudarmos essa realidade bárbara.




A precarização do trabalho tem rosto de mulher

“Sim, a precarização do trabalho em nosso país tem rosto de mulher. E é justamente aí que reside o perigo desta constatação: o que aconteceria se milhões de mulheres pobres, trabalhadoras terceirizadas, informais, donas de casa, desempregadas, esse verdadeiro exército silencioso, se levantasse de uma só vez contra todas as formas de opressão e contra este sistema que nos explora e superexplora cada vez mais?”[1]. 
             Nosso Brasil do crescimento e desenvolvimento econômico, do Pré-Sal, da Copa do Mundo e das Olimpíadas, incluído entre as maiores economias do mundo, esconde uma realidade muito distinta dessa aí, propagada pelo governo e pela mídia burguesa para todo o mundo. O crescimento que aconteceu com o Governo Lula e continua com o da Dilma ocorreu, como apontam os dados estatísticos do IBGE, com queda no desemprego e maior criação de empregos formais, ocupados principalmente pela força de trabalho feminina. Contudo, o que permanece oculto é que estes postos de trabalho são, na realidade, trabalhos precarizados, sem estabilidade, sem condições decentes no local de trabalho e com contratos flexibilizados – sem garantia de direitos historicamente conquistados, como licença-maternidade, 8 horas diárias de trabalho e auxílios -, permitindo que os trabalhadores ganhem menos de um salário mínino.
            Essa realidade do mercado de trabalho que parece tão distante está escancarada na nossa frente. Os terceirizados da limpeza, do bandejão, da segurança, da construção civil aqui da Unicamp são todos empregados com esse tipo de contrato. Trabalham dez horas por dia, inclusive finais de semana, e recebem (líquido) menos que um salário mínimo, não possuem lugar para descansar (no IE, por exemplo, as terceirizadas descansam no bosque porque não possuem um local adequado para ficarem durante o horário de almoço), não possuem direitos trabalhistas, não podem faltar nem se estão doentes porque são ameaçados de serem demitidos, são ignorados pelos alunos, professores e funcionários efetivos, não podem conversar com estes e caso o façam podem sofrer punições, serem demitidos ou transferidos para outra unidade(essa fiscalização aqui na Unicamp tornou-se mais rígida após a tentativa de contato de alguns estudantes com os trabalhadores terceirizados e a mobilização dos primeiros contra a terceirização, no ano passado), enfim, trabalham num regime de semi-escravidão.           
            A precarização do trabalho, chamada de terceirização, atinge toda a classe trabalhadora, mas está mais presente entre nós, mulheres. Isto porque a mão-de-obra feminina, sendo considerada por nossa sociedade capitalista como inferior à masculina, recebe salários menores e este fato serve como pretexto para que o salário de toda a classe trabalhadora seja rebaixado. Nós, mulheres, ocupamos os postos de trabalho mais precarizados, com menor remuneração e com serviços que são, em sua maioria, extensão do serviço doméstico.
            Além desse trabalho realizado em condições desumanizadoras, estas trabalhadoras ainda possuem sob sua responsabilidade o serviço doméstico e o cuidado da família, realizando uma dupla jornada. De acordo com os dados do Ipea, as mulheres chefes de família e com filho trabalham cerca de 13 horas semanais a mais que os homens na mesma situação, realizam 30 horas semanais de trabalho não remunerado, ou seja, trabalho doméstico, e isso é três vezes mais do tempo gasto pelos homens na realização das mesmas tarefas. É importante ressaltar que este trabalho feito em casa é essencial para o funcionamento do capitalismo, pois irá garantir a manutenção da força de trabalho: um trabalhador precisa se alimentar, ter sua roupa lavada, passada, viver em um local limpo, caso contrário não poderá ir trabalhar e tudo isso é garantido dentro de casa, pela mulher, num papel que lhe é socialmente atribuído.
            Estas trabalhadoras, ao contrário do que muitos dizem, não realizam funções secundárias dentro da universidade, são parte dela e são essenciais para o seu funcionamento. Contudo, sabemos que embora suas tarefas sejam essenciais para o funcionamento da universidade, a estes trabalhadores e aos seus filhos nunca será dada a oportunidade de ingressar na universidade com outro papel que não este. De acordo com os dados do Inep apenas cerca de 3,5% da população brasileira tem acesso ao ensino superior. O rendimento médio per capita da população é de 1,3 salários mínimos, já o dos estudantes da Unicamp é o dobro disso, 3 salários mínimos. No caso do curso de economia, um dos mais elitizados, essa renda média salta para cerca de 4,5 salários mínimos por pessoa da família.
            Além disso, o conhecimento que é aqui gerado não retorna como benefícios para esses trabalhadores, ao contrário, são vendidos para as transnacionais em acordos com a reitoria e o governo do Estado, em troca de financiamento de laboratórios, festas, atléticas, intercâmbios aos estudantes, estágios. Estas são as mesmas transnacionais e empresas –representantes do imperialismo– que (como bem estudamos no nosso curso) no início dos anos 80, sob o pretexto de se ajustar a um ambiente instável de crise – gerada por elas – flexibilizaram, racionalizaram e terceirizaram a sua produção, aumentando os seus lucros por meio da superexploração dos trabalhadores em todo mundo, mas principalmente nos países subdesenvolvidos. 
            Estes trabalhadores e, principalmente estas trabalhadoras, mulheres, que sentem sobre si o peso da dupla exploração, dentro e fora de casa, não estão calados. Ainda nesse semestre, vimos as manifestações dos trabalhadores terceirizados em Jirau contra as condições precaríssimas de trabalho, numa obra em construção do grandioso PAC, que teve como resposta do governo federal o envio da Força de Segurança Nacional. E mais perto de nós, na USP, as trabalhadoras terceirizadas da limpeza também realizaram uma greve porque estavam trabalhando ser receber salário já havia três meses, um fato que era agravado pela razão da firma ter declarado falência. Uma greve que, no início, reivindicava apenas recebimento dos salários, transformou-se em uma luta contra a terceirização e pela efetivação sem concurso público dessas trabalhadoras, bandeira levantada também por nós do Pão e Rosas, pois se o objetivo do concurso público é provar a capacitação dessas trabalhadoras para exercerem as suas funções, a maior prova que podemos ter é o fato daquelas já as exercerem.  O apoio do SINTUSP (Sindicato dos funcionários da USP) e dos estudantes (que foram chamados pelas trabalhadoras a saírem das salas de aula e lutarem com elas) teve como resultado o pagamento dos seus salários pela Reitoria da USP, apesar de não terem sido efetivadas. É importante ressaltar que a Reitoria da USP a princípio tinha se negado a pagar estes direitos às trabalhadoras, sob a alegação de que isso era de responsabilidade da empresa que as contrataram, contudo, em razão das mobilizações, dos piquetes, dos atos e manifestações, da lutas destas trabalhadoras em aliança com os estudantes esse pagamento foi arrancado da Reitoria.
            O movimento estudantil e os centros acadêmicos (especialmente este aqui, de economia, cujos alunos estudam esta questão diariamente) devem estar juntos na luta com e por estas trabalhadoras, numa perspectiva clara de uma democratização ampla e radical do acesso ao ensino superior público, gratuito e de qualidade, para que este tipo de trabalho realizado em condições desumanas não ocorra aqui na universidade e nem em local algum. Para que essa grande maioria, que não entra na universidade senão para limpar salas que nunca irão usar, construir prédios nos quais os seus filhos nunca poderão estudar, tenham acesso à universidade. Não podemos mais fechar os olhos e estudar em silêncio numa Universidade que explora trabalho semi-escravo de mulheres e homens para funcionar.
 
            Nós, do grupo de mulheres Pão e Rosas, acreditamos que diante dessa realidade não adianta lutarmos sozinhas, é necessário que nós, mulheres, nos organizemos, para que juntas, nos aliando com os setores mais oprimidos da sociedade, consigamos exigir e arrancar os nossos direitos, tal qual nos ensinaram as trabalhadoras terceirizadas da USP. A nossa luta não deve ser contra os homens, mas sim contra esse sistema capitalista e patriarcal que nos explora e nos oprime diariamente – nos impondo dupla jornada de trabalho, exigindo de nós padrões de beleza inalcançáveis – e que necessita manter e perpetuar o machismo, a homofobia e o racismo pra funcionar. A emancipação da mulher, a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática, não virá por meio da chegada ao poder de uma ou outra mulher, que no final estão lá não para representar as milhares de trabalhadoras, tais como as terceirizadas, mas sim para atender ao interesse de uma pequena elite, da classe burguesa. Somente a partir da nossa auto-organização e da nossa luta anticapitalista e antiimperialista numa perspectiva classista poderemos mudar esta realidade.


[1] A precarização tem rosto de mulher, ORG. Diana Assunção. Edi. ISKRA, 2011.

terça-feira, 14 de junho de 2011

"ANEL discute HOMOFOBIA"

 
Ao mesmo tempo em que o Supremo Tribunal aprova a união estável homoafetiva, Dilma veta o kit anti-homofobia e o deputado Jair Bolsonaro (assumidamente hommofófico) conta com o apoio dos setores que espancam e matam homossexuais e travestis. Quais foram os avanços e retrocessos na luta contra a homofobia hoje?
 
Já estão confirmados para a atividade:

- Guilherme
 (estudante da USP e militante da ANEL São Paulo, este ano foi agredido vítima de homofobia)
- Prof. Dr. Omar Ribeiro
 (Antropologia - Unicamp)
- Rita Frau
 (professora da rede pública estadual, militante do grupo de mulheres Pão e Rosas)
Data: 16 de junho (quinta-feira)
Horário: 17h30
Local: Auditório I do IFCH

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Nas eleições da APEOESP: chamamos a votar nas candidatas do Pão e Rosas e da corrente "Professores pela base"!

Com a Corrente Professores Pela Base, o Pão e Rosas apresenta suas candidatas às eleições da APEOESP, como parte da Chapa 2 – Oposição Unificada na Luta. Como um grupo de mulheres que reúne trabalhadoras e estudantes, participamos dessas eleições pra combater a política da Chapa 1 atrelada ao governo Dilma em mostrar para as mulheres que é possível levar adiante a luta pelos seus direitos, junto aos outros trabalhadores, questionando a educação pública, seu caráter e a serviço de quem está, e as condições de trabalho a que estamos submetidas.  A corrente Professores pela base e o Pão e Rosas estão intervindo nestas eleições com o objetivo de denunciar a política da atual Diretoria do Sindicato que no ano passado fez de nossa greve “moeda de troca” pelas eleições de Dilma Roussef, impondo uma brutal derrota contra a categoria, que hoje sente suas conseqüências. Esta verdadeira burocracia sindical convive pacificamente com a enorme fratura que existe em nossa categoria e “livra a cara” do governo mesmo depois do mesmo se opor à distribuição do kit-anti-homofobia. Ao mesmo tempo, como parte da Chapa 2, temos o intuito de fortalecer um pólo antigovernista e justamente por isso consideramos que é vital um debate vivo sobre todas as posições políticas. Reproduzimos abaixo entrevista com dois candidatos e militantes da LER-QI, os professores Márcio Bárbio (Zona Norte) e Rita Helena Frau (Campinas).

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Pão e Rosas nas eleições da APEOESP lutando com as professoras efetivas e temporárias! Efetivação dos temporários sem concurso público! Pelo direito ao aborto legal, livre, seguro e gratuito! Campanha contra a homofobia e educação sexual livre! Fora a polícia das escolas! Nos inspiremos nas mobilizações da Primavera Árabe e do Maio Espanhol! A classe trabalhadora e a juventude conquistarão os seus direitos com mobilização nas ruas!

Com a Corrente Professores Pela Base, o Pão e Rosas apresenta suas candidatas às eleições da APEOESP, como parte da Chapa 2 – Oposição Unificada na Luta. Como um grupo de mulheres que reúne trabalhadoras e estudantes, participamos dessas eleições pra combater a política da Chapa 1 atrelada ao governo Dilma em mostrar para as mulheres que é possível levar adiante a luta pelos seus direitos, junto aos outros trabalhadores, questionando a educação pública, seu caráter e a serviço de quem está, e as condições de trabalho a que estamos submetidas.

CHAMAMOS A VOTAR NAS CANDIDATAS DO PÃO E ROSAS E DA CORRENTE PROFESSORES PELA BASE NESTAS ELEIÇÕES!

Rita Helena Frau, candidata pela sub-sede de Campinas, n. 101, E. E San Diego


“A nossa categoria é fraturada ao meio, fragmentada. Como não começar a nossa luta a partir aí? Não posso aceitar trabalhar lado a lado com professoras e professores que ganham menos do que eu, por não conseguirem atribuir aulas, que têm menos direitos, e não têm sequer a estabilidade, e a cada 2 anos ficam 1 ano inteiro desempregados. Eles não têm os mesmos direitos, sequer a possibilidade de terem a mesma quantidade de faltas abonadas como os efetivos – é uma humilhação. E há muitos motivos para começar a luta a partir disso: por um lado trata-se de um enorme enfraquecimento do conjunto do professorado, pois há professores que por ganharem menos e terem menos direitos, não se consideram parte da mesma categoria. Por outro lado, esta fragmentação também leva a mais precarização do trabalho, ou seja, a condições piores no cotidiano para conseguirmos dar aulas.

Como acabar com esta situação de forma definitiva? Somente defendendo a efetivação de todos os temporários sem a necessidade de concurso público, já que estes já cumprem a função todos os dias e não necessitariam comprovar que são aptos para fazê-lo. Combinado a isso devemos colocar de pé uma luta intransigente em relação à jornada de trabalho sem redução dos salários – sem falar no caso das professoras mulheres, que depois tem a segunda jornada de trabalho em suas casas. Devemos lutar por uma jornada de 50% horas de atividade fora de sala de aula, com o salário mínimo do DIEESE para todos os professores e pela redução da jornada de trabalho sem redução dos salários. Para isso acontecer de forma concreta, devemos lutar por restaurantes 100% subsidiados nas escolas para todos, não somente para os alunos. Queremos também creches em tempo integral para todas as professoras, as funcionárias e terceirizadas, e também para as jovens adolescentes que já são mães. E diante de tamanho escândalo nacional com a violência homofóbica, devemos colocar de pé uma ampla campanha contra a homofobia e violência aos homossexuais em todas as escolas! Para tanto, devemos nos inspirar na disposição de luta e nos exemplos de mobilização da Primavera Árabe e da juventude espanhola, que estão nas ruas reivindicando seus direitos sociais, se colocando contra os governos que querem descarregar o ônus da crise nas costas dos trabalhadores!Minha candidatura, como militante da LER-QI e do Pão e Rosas, integrando a Chapa 2, estará a serviço destas bandeiras como parte da luta contra este sistema de exploração e opressão”.


“Não somos carcereiros, somos todos professores. Fora a polícia das escolas!”

Inaya, candidata pela sub-sede da Zona Norte de SP, nº 56, E.E Prof. Amenaíde Braga

Entramos. No corredor há grades e policiais fazendo vigília. Cada porta representa uma aglomeração cada vez maior de pessoas. Em todas as bifurcações há câmeras. Há também cadernos, lápis e uma lousa. O governo quer o que nenhum professor sonhou ser: ser carcereiro de crianças e jovens. A polícia só é mais um grande passo em direção ao cárcere. Se aceitamos a situação da escola pública como ela está, então a polícia será de grande ajuda, bem como as câmeras, bem como as grades. Mas não somos carcereiros, somos todos professores, e a educação não se faz por entre grades. A polícia não está do nosso lado, está do lado dos que ganham milhões com o trabalho escravo de nossa juventude, está do lado dos corruptos, está do lado de quem tem.

Querem tirar a educação de nossa juventude e transformar nós em mais uma peça da engrenagem trituradora de sonhos, trituradora de revolta, trituradora de vida.

Fora a polícia da escola! Por melhores condições de ensino! Por um ensino público de qualidade!

“São as mulheres pobres as maiores vítimas do aborto clandestino”

Adriana Paula, candidata pela sub-sede da Zona Norte de SP, nº 53, Cedom
 
É muito importante iniciarmos uma discussão séria e profunda a respeito do aborto com as professoras da Rede Estadual de São Paulo. A categoria é composta majoritariamente por mulheres, 78,28%, segundo dados de dezembro de 2010, de diferentes faixas etárias, configurações sociais, políticas e religiosas. Primeiramente, é preciso considerar que o trabalho docente tem sido muito difícil em função das condições de trabalho, da defasagem salarial e do vínculo precário empreendido a quase metade da categoria (OFAs). Mas, devemos ter claro que apesar das condições não favorecerem uma realização profissional plena e a libertação das amarras da ideologia dominante, o nosso papel deve ser resistir e analisar a questão com cuidado, levando em conta a realidade do aborto no Brasil, as “estatísticas”, as implicações, as conseqüências... O aborto é uma importante causa de morte porque a proibição não impede a prática, além disso, aumenta ainda mais a nossa já gritante desigualdade social, na medida em que são as mulheres pobres as maiores vítimas, por não terem condições financeiras de realizar o aborto com a segurança médica necessária. Nesse sentido, gostaria que cada professora refletisse sobre algumas questões: Até quando vamos fingir que o aborto não existe? Até quando vamos ignorar os inúmeros casos de morte? Resolvemos a questão ao não pensarmos sobre ela? Por fim, devemos nos omitir ou ter a coragem de enfrentar essa difícil questão?



“As candidatas do Pão e Rosas buscarão construir um novo sindicalismo classista e combativo”

Diana Assunção, diretora do Sindicato de Trabalhadores da Universidade de São Paulo dirigente da LER-QI e do grupo de mulheres Pão e Rosas

Declaro todo meu apoio às companheiras do Pão e Rosas, que integram a Chapa 2 nestas eleições da APEOESP. A categoria de professores, majoritariamente feminina, e fragmentada ao meio entre efetivos e temporários, necessita de dirigentes sindicais que lutem pelas reais necessidades das mulheres assim como pela efetivação de todos temporários, sem necessidade de concurso público, para acabar com esta fragmentação. Nós que participamos ativamente da luta das trabalhadoras terceirizadas da UNIÃO na USP buscamos fazer a diferença nesta luta, e por isso apoiamos os candidatos e candidatas que na categoria de professores buscarão generalizar estas experiências e construir um novo sindicalismo classista, desde a base e que coloque como prioridade a luta pelos nossos direitos democráticos.
 
“Junto comas companheiras do Pão e Rosas construímos a Corrente Professores Pela Base e estamos lançando nossas candidaturas como parte da Chapa 2. Queremos que a luta pelos direitos das mulheres tenha um destaque central em nossa campanha e minha candidatura também estará a serviço disso. Pelo direito das mulheres trabalhadoras! Lutemos todos juntos contra a opressão”

Márcio Bárbio, candidato pela sub-sede da Zona Norte de São Paulo, n. 24, E. E. Silva Jardim
 

Professoras, lutemos pela legalização do aborto! Por Paulinha Berbert, professora de Sociologia na Zona Norte de SP, militante do Pão e Rosas e da corrente Pela Base


Em abril deste ano aconteceu a Convenção da Oposição Alternativa da Apeoesp, quando foi definido um programa comum com o conjunto dos companheiros que combatem a burocracia governista da Bebel e da Chapa 1. Nós – do grupo de mulheres Pão e Rosas, que também compomos a corrente Professores PELA BASE – travamos uma luta política importantíssima, mas dessa vez em torno de um tema que é, ou deveria ser, um consenso entre a esquerda: a bandeira da legalização do aborto.


Os companheiros da ala majoritária da Oposição, o PSTU, apresentaram uma proposta de programa contra as opressões que não incluía a luta pela legalização do aborto. Defendemos então a inclusão desta bandeira, que é histórica do movimento de mulheres. A partir daí abriu-se o debate para o conjunto do plenário e infelizmente os companheiros mantiveram a sua proposta inicial, sob o argumento de que a defesa do aborto livre, legal, seguro e gratuito “não dialoga com a categoria”. Depois de muita discussão e crise em sua bancada, o PSTU teve que fazer um recuo tático, dizendo que era consenso colocar o direito ao aborto no programa, mas não como eixo. 

A discussão que colocamos naquele momento é a mesma que reproduzimos agora: qual é tarefa histórica dos ativistas que compomos a Oposição Alternativa senão a de nos chocarmos com a consciência média do professorado paulista, majoritariamente lulista e dilmista, que ainda alimenta muitas ilusões no PT e na ArtSind-Chapa 1? E nesse sentido, a bandeira da legalização do aborto cumpre um papel fundamental! Para além do simples fato de que a nossa categoria é esmagadoramente feminina, e a sua participação ativa na luta pela legalização colocaria este combate em um papel muito superior, o debate da questão dialoga, e muito com as posições dos nossos colegas. 

Dialoga porque questiona preconceitos inculcados pela ideologia burguesa e cristã sobre o papel das mulheres nas mentes de muitos educadores. Dialoga porque desmascara a posição demagógica de Dilma, do PT e de seus representantes no movimento sindical, como a Bebel, que dizem estar ao lado das mulheres e de seus direitos, mas não exitam em rifar nossas reivindicações para manter o apoio eleitoral de setores conservadores. Dialoga porque discute a necessidade da autonomia que precisamos ter sobre os nossos próprios corpos e que não podemos mais deixar que milhares de nós sigamos morrendo por abortos clandestinos. Dialoga, mas não se adapta aos elementos atrasados que o professorado paulista ainda carrega consigo.

É preciso deixar claro que a prática política do PSTU é permeada pela concepção de não se chocar coma consciência dos trabalhadores, sob o pretexto de “querer dialogar”. O que os companheiros perdem de vista é que, para além da importância em si da luta pela legalização do aborto, a discussão desta bandeira com a base da categoria é uma oportunidade valiosa de fazê-la avançar. E é esta justamente a tarefa da Oposição Alternativa: fazer o professorado paulista avançar politicamente a partir de um programa que responda as  nossas principais demandas (como a unidade de nossas fileiras, a defesa da educação pública de qualidade, o aumento salarial) e que levante com centralidade as bandeiras democráticas, como a legalização do aborto!

As professoras do Pão e Rosas gritamos: basta de mulheres mortas por abortos clandestinos!
Anticoncepcionais e contraceptivos gratuitos e de qualidade!
Que a Oposição Alternativa organize uma grande campanha pela legalização do aborto junto à categoria!

Sobre o livro“A precarização tem rosto de mulher” Extratos da resenha publicada na Revista ContraCorrente, por Paulinha Berbert

Elas são as primeiras pessoas para as quais dou‘bom dia’, negras, uniforme azul que as diferenciam de todos os outros funcionários da escola estadual onde trabalho. “Tão cedo no batente?” – pergunto  às 6h40. “É claro, professora. Tudo precisa estar em ordem pra quando vocês chegarem, não é?” – responde uma das duas terceirizadas que limpam uma escola que atende mais de 800 alunos.
Entram todos os dias às 5h da manhã, saem às 16h, param meia hora para o almoço que trazem de casa, zanzeam com vassouras e baldes nas mãos. Sempre juntas, a única coisa que lhes dá identidade é as luvas que usam, que têm seu nome escrito. Ali ninguém fala com elas, nem os alunos, nem os demais funcionários e professores. (...) Mas eu ouvia aquelas mulheres e me lembrava de outra que conheço, tão parecida com elas – Silvana, resolvi falar do livro. “Vou trazer um presente pra vocês na segunda-feira ...”. “O que, professora? Não precisa se incomodar com a gente!”. “É um livro que fala sobre vocês, sobre mulheres terceirizadas, que dão duro, trabalham limpando um lugar, à noite chegam e casa e trabalham  mais ... Acho que vocês vão gostar!”. Mostro a elas o piloto do livro, que estava na minha mochila. Na capa duas terceirizadas, usando uniformes escuros e com vassouras na mão, uma diz para outra: “Olha, podia ser a gente!”. 

Leia a resenha na íntegra no blog de Paulinha Berbert:  http://carregobandeira.blogspot.com

Dilma, basta de trocar nossos direitos para salvar seus políticos corruptos!


É uma realidade concreta a discriminação e agressão sofrida pelos homossexuais em nosso país, são vários os casos de violência contra eles por parte de grupos de ultra-direita, que ainda contam com a o apoio ideológico de deputados reacionários como Bolsonaro. E nas escolas não é diferente, alunos, professores e funcionários homossexuais são vítimas constante de agressões, perseguições e assédio moral.

Esse debate ganhou espaço na mídia, nas salas de aula e entre professores em virtude da confecção de um kit anti-homofóbico elaborado pelo MEC e ONGs, que seriam distribuídos nas escolas de todo o país. De novo os setores conservadores saíram da toca e pressionaram o governo para que retrocedesse na distribuição desse material, e Dilma mostrou a que veio! Na semana passada proibiu a distribuição do kit por conta de uma negociata com a bancada evangélica e católica em troca da não acusação ao ministro Palocci, que mais uma vez foi pego em trambiques. A direção da Apeoesp, inclusive a nossa presidenta, Bebel (Chapa 1), se calou vergonhosamente!

Se por um lado, a cartilha do MEC não é o suficiente para combatermos a homofobia e a violência contra homossexuais, por outro lado, este é um debate fundamental de fazermos dentro de nossas salas de aula e como conjunto do professorado. Sabemos que a atividade do professor tem um caráter particularmente ideológico e podemos ser um contraponto de reflexão e crítica para nossos alunos. 

Precisamos colocar de pé uma ampla campanha contra a homofobia e violência aos homossexuais em todas as escolas!

 É preciso lutar pela educação sexual em todos os níveis de ensino, com a escolha do conteúdo decidida pelos professores e estudantes através de seminários em cada local de ensino! 

É preciso cobrar do nosso sindicato que organize uma ampla campanha em defesa dos direitos dos homossexuais, além de estarmos, os professores da rede estadual, ao lado dos ativistas LGBTT lutando por seus direitos!

Pelo exercício da livre sexualidade!

Por uma educação laica sem a interferência da Igreja!


Pão e Rosas entrevista a professora potiguar Amanda Gurgel (entrevista na íntegra)

Publicamos abaixo a entrevista na íntegra com Amanda Gurgel, professora do Rio Grande do Norte e militante do PSTU, onde buscamos a opinião desta professora - que tornou-se nacionalmente conhecida - sobre os eixos da campanha que o Pão e Rosas vem levando adiante como parte da Chapa 2. Como expressamos neste material, há uma série de debates que queremos travar com as companheiras de outras correntes que compõe a Chapa 2, como a necessidade de lutar pela efetivação sem necessidade de concurso público, ou a necessidade de levar de frente a discussão sobre a legalização do aborto. Abaixo, as opiniões de Amanda e sua luta.


Flavia Vale - Pão e Rosas - Belo Horizonte - MG: O fenômeno do vídeo na internet expressa que há um enorme espaço para lutar contra as péssimas condições de trabalho do professor e para lutar pela educação pública de qualidade. Como você vê a questão, como acha que podemos coordenar as lutas efetivamente?

Amanda Gurgel: Então, o fenômeno do vídeo realmente abriu esse espaço pro debate da educação de um jeito que a gente nunca tinha visto. Inclusive com um espaço na grande mídia, que é um espaço que nós devemos utilizar na tentativa de ganhar a opinião pública para essa questão, já que existe todo um trabalho da ideologia feito para a divisão da classe trabalhadora, para que os pais dos alunos acreditem que os professores são responsáveis pelo caos da educação. Então, é um espaço agora que estamos tendo em diversos veículos, tanto da imprensa alternativa como da imprensa burguesa, da gente divulgar nossa campanha pelos 10% do PIB e esclarecer as pessoas quanto a essa questão, dos verdadeiros responsáveis pelo caos da educação que são os governos. Então, do ponto de vista prático, além das redes sociais, que nós não podemos desconsiderar o poder que essas redes sociais tem, além da atuação nesse ambiente da internet, estamos tentando ampliar essa luta à luta clássica, a luta nas ruas. Isso não é uma tarefa fácil, mesmo porque nossa principal entidade, a entidade que nos reúne em medida nacional, que é a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), ela não está imbuída desse mesmo sentimento que nós estamos. Mesmo porque é uma entidade que está atrelada ao governo, e nós estamos tendo que construir essa mobilização nacional por outras vias. Nesse final de semana, eu vou me reunir com o pessoal na reunião da CONLUTAS nacional, eu estarei presente para que a gente possa desenvolver alternativas de mobilização real da categoria em nível nacional. Levando em consideração, ainda que se não tivermos o apoio da CNTE, e se as mobilizações não forem chamadas pela CNTE, isso vai ser um enfraquecimento para o movimento, já que uma paralisação que não seja convocada por uma entidade reconhecida oficialmente é considerada uma falta como outra qualquer. Assim, muitos trabalhadores talvez não queiram aderir pelo fato de não ter uma coisa oficial, mas a nossa batalha é para que a CNTE perceba esse momento que nós estamos vivendo agora, um momento histórico para o debate da educação, entenda a importância dessa mobilização nacional e que esteja junto com as redes sociais, enfim, com a minha imagem também que nesse momento, apesar de eu não ter qualquer tipo de vaidade nem me achar especial ou diferente de qualquer professor, mas afinal de contas a minha imagem está associada a esta luta, e que a CNTE venha somar suas forças à nossa.

FV: Sobre o kit anti-homofobia, como a Dilma cedeu à bancada católica e evangélica e retrocedeu mais em nossos direitos democrático. Qual o papel dos professores desde as escolas na luta pelos direitos dos homossexuais, como o casamento igualitário, a criminalização da homofobia, colocando os professores como aliados dos jovens para que todos possamos expressar livremente nossa sexualidade?

AG: Olha, se nós tivéssemos uma escola ideal, uma escola que fosse um ambiente favorável à construção do conhecimento, a função do professor seria a de realizar esses debates dentro da escola. No entanto, as nossas estruturas hoje na escola são estruturas que impedem qualquer tipo de debate, mesmo porque a maior parte do tempo dentro das salas de aula – isso você pode confirmar com qualquer professor – a maior parte do tempo nas escolas a gente passa para administrar o caos dentro da própria sala de aula. A hiperatividade dos alunos, a super lotação, no caso nosso no Rio Grande do Norte, o calor. Então, assim, nós não temos muitas condições de realizar debates dentro das salas de aula. Se nós tivéssemos uma educação, uma escola que fosse comprometida realmente com a educação transformadora, a nossa função seria essa, mas como nós não temos, infelizmente nós ainda precisamos entender e ter a consciência que precisamos ser pacientes com nossos colegas professores, que muitos ainda não alcançaram esse nível de consciência em relação aos segmentos que são oprimidos na sociedade, mais oprimidos que os trabalhadores de modo geral, que são as mulheres, os negros e negras, os homossexuais. Enfim, nesse modelo que nós temos hoje de escola, que é um modelo em que a escola funciona como um depósito - não é um chavão, é um fato - e que os professore têm atuado apenas como guardiões dessa crianças, o professor está um pouco limitado. Não tem muito como realizar esse debate, como contribuir pra isso dentro do ambiente escolar. Agora, em relação à Dilma, acho que não é uma surpresa, não podemos dizer que é uma atitude surpreendente, mesmo porque durante a campanha dela, ela utilizou como moeda de troca também a questão do aborto, entendeu? E cedeu à pressão dos evangélicos, negando uma luta histórica do próprio partido dela. Então, não só o kit gay, como a questão da defesa do aborto, como qualquer outra demanda que seja levantada dentro do governo Dilma, mesmo que seja uma luta histórica do próprio PT, a gente não tem dúvida que ela vai ser utilizada como moeda de troca, e que vai ser relegada ao mais baixo patamar, desde que seja pra atender os interesses do governo.

FV: ...do governo e desses setores também ...

AG: ...exatamente, a bancada evangélica, as bancadas moralistas fundamentalistas. Infelizmente...

FV: Agora, em relação ao aborto. Nós fazemos parte de uma categoria que mais de 60% são mulheres, como a luta por uma escola publica, gratuita, de qualidade e laica continua sendo fundamental, pra colocar mais do ponto de vista dos professores, apesar de todo atraso que tem na categoria, essa luta que a gente tem como CSP-CONLUTAS como ANEL.

AG: Sim, isso é um debate difícil demais porque, pra questão do aborto, por exemplo, existe todo um trabalho da ideologia e da mídia pra que seja, em primeiro lugar, feito uma confusão entre a legalização do aborto, o direito da mulher de fazer um aborto, e a defesa do aborto em si. Porque o nosso movimento não defende que as mulheres saiam por aí abortando ou que o aborto seja uma forma contraceptivo. Não é isso que nós defendemos. O que defendemos é que a mulher tenha o direito de decidir sobre seu próprio corpo e que ela não seja considerada uma criminosa por causa disso. Mas não é isso que é propalado pela mídia. O que é propalado é que nós somos mulheres que estão querendo fazer aborto a todo o momento e querendo que todas as mulheres façam aborto. E isso coloca já em choque essas mulheres, que constituem a maioria da nossa categoria, e que muitas são cristãs, e que já têm essa dificuldade de realizar na sua própria prática pedagógica a isenção do que se refere a essa ideologia, e que é reforçada ainda pela mídia dessa forma, distorcendo nosso discurso, distorcendo a nossa bandeira. Então, é um debate que nós, que estamos na vanguarda, temos a obrigação de levar pra dentro das escolas com muita paciência, porque eu tenho visto no meu espaço, onde atuo, nas escolas do RN, a mudança de concepção de alguns colegas. Então, em alguns momentos, eu passo a considerar algumas mulheres muito mais avançadas do que eu, porque são mulheres que tiveram uma formação cristã tradicional, que foram educadas para o casamento, para o cuidado com o lar e de repente estão defendo isso, defendendo que a mulher precisa ter o direito de decidir sobre o próprio corpo. Que se ela decidiu que ia fazer um aborto, é porque ela tinha essa necessidade e por isso ela não será considerada criminosa. Mulheres que tiveram essa formação extremamente tradicional e que estão voltando nas suas memórias e lembrando que as suas avós realizaram aborto, que as suas mães realizaram aborto, e que isso não fez delas mulheres criminosas ou menos cristãs. Então é um compromisso nosso, nós, que estamos na vanguarda, temos o compromisso de levar o debate pra dentro das escolas. Mas eu tenho ainda uma certa crítica ao nosso próprio movimento, que é a forma como nós levamos que não é muito didática. E eu percebo que no momento que você consegue trazer pra vida concreta, como esse exemplo que eu estou dizendo, como a minha avó, por exemplo, eu não tenho vergonha de dizer, eu chego na escola e digo: “olha, minha avó ela realizou dois abortos, minha avó era cristã, católica”. Então, assim, eu acho que nós devemos ter essa forma mais didática de dialogar com as pessoas. Uma das coisas, um dos elementos que as pessoas têm destacado para essa questão do vídeo e tal, do sucesso e tudo, é a minha linguagem, a forma como eu me expresso e tal, e que é minha, tudo bem, não tô dizendo que é melhor nem pior do que a de ninguém, mas que nós precisamos levar em consideração nesses momentos de dialogar sobre esse debate, entendeu? Nós não estamos abrindo, eu não to abrindo mão de nenhuma bandeira do nosso movimento, nem do movimento de mulheres, nem do movimento gay, não tô abrindo mão de nenhuma bandeira mesmo, nem do meu partido, nem da minha central, não tô abrindo mão de nada, mas, a forma como eu tenho me dirigido as pessoas, entendeu?, tem sido mais fácil delas compreenderem, apenas isso.

FV: Mas sendo você essa porta voz, como você faria o diálogo em relação ao direito à maternidade, ao direito ao aborto na nossa categoria, como você pensa em fazer isso?

AG: Mas eu faço, é isso que eu tô dizendo, eu já faço, já tenho dentro das escolas essa tarefa, entendeu? Me sinto nessa obrigação de fazer esse debate, e eu faço dessa forma. Gente, o que as mulheres, o que nós, mulheres feministas, estamos defendendo não é o aborto como uma forma de contraceptivo, de jeito nenhum, entendeu? Não é isso que nós estamos defendendo. O que nós estamos defendendo é que se uma mulher compreende que ela precisa realizar um aborto, ela não pode ser encarada como uma criminosa por causa disso. É apenas isso que nós estamos defendendo, né? E que principalmente ela possa ter acesso a esse serviço na rede básica de saúde, na rede pública, porque se é uma mulher que tem dinheiro, ela pode fazer, eu levo exatamente assim, entendeu? Se é uma mulher que tem dinheiro, se é a prefeita da cidade, por exemplo, que a gente não tem como ter acesso a informações sobre a vida privada das pessoas, nem interessa, mas se é qualquer pessoa que tenha dinheiro, ela faz num consultório médico, e isso não vai ser problema nenhum, nem ela vai ser exposta nem ridicularizada por causa disso, mas se é uma mulher da classe trabalhadora, ela vai colocar a vida dela em risco.A nossa única defesa é essa.

FV: Agora só para finalizar, última pergunta: Em São Paulo, no Rio Grande do Norte e em quase todos os Estados, a categoria de professores é dividida ao meio, entre efetivos e temporários, uma forma de enfraquecer nossa categoria e manter os trabalhadores com muita desigualdade de salários e direitos. Como é essa situação no Rio Grande do Norte, e que programa vocês levantam para acabar com esse problema?

A.G: Olha, no Rio Grande do Norte é muito parecida. É, na rede municipal nós temos, além dos professores concursados, normais né?, aqueles que são efetivos, nós temos educadores infantis, que é uma coisa que nem era mais para existir, né?, que foi num concurso recente, 4 anos atrás, a primeira turma de educadores infantis que entrou na rede municipal, que são professores que tem apenas o ensino médio, certo? E que pra uma jornada de 40 horas semanais, elas recebem o mesmo salário que nós recebemos pra uma jornada de 20. Então, a maioria, mulher, certo? E mulheres extremamente exploradas, né? Numa situação de exploração gritante, assim, até pelas condições que elas têm dentro das creches. Essas educadoras infantis que trabalham com as crianças de três meses até cinco anos de idade. Então, a primeira divisão que tem na rede municipal é essa, de professores efetivos, concursados, de nível superior e os de nível médio, que são os educadores infantis, além dos contratados, que são os precários, que a qualquer momento podem ter seus contratos rescindidos ou não renovados, e que estão, por exemplo, esse ano trabalhando desde o início do ano letivo sem receber um centavo. Não receberam ainda nenhum centavo, e não sabem sequer o valor do salário, qual vai ser o valor desse salário que eles não receberam ainda, certo? Na rede estadual, nós temos os concursados, que são os efetivos, temos os estagiários, que são os precários dos precários, que recebem menos da metade do nosso salário, e temos ainda (eu falei os estagiários e os contratados?) os efetivos, os contratados e os estagiários. Então, você até perguntou se não seria o caso da gente efetivar os professores que são contratados...

FV: Sem necessidade de concurso...

AG... sem necessidade de concurso. A bandeira nacional que a gente defende é a bandeira do concurso, entendeu? Agora, no caso aqui de Belo Horizonte, pelo que eu estou vendo, é tanto professor contratado que eu não sei se seria o caso da gente rever isso, e ter uma bandeira local que fosse para a contratação, a efetivação desses professores contratados. Agora, nacionalmente o que a gente defende é o concurso, entende? Eu não sei, realmente eu não poderia nem opinar sobre isso aqui, localmente, entende? Porque a bandeira que nós defendemos é que nós tenhamos concurso já, e que não tenhamos professores contratados, porque os professores contratados trabalham em condições ainda mais precárias do que nós, entendeu? Hoje, por exemplo, no Rio Grande do Norte a nossa categoria está quase que 100% em greve, mas o Estado se apóia nos professores contratados para dizer que as escolas estão funcionando. Porque são professores que não têm coragem assim, porque precisam desse dinheiro né? Precisam desse salário, que um dia eles vão receber, porque eles também estão trabalhando sem receber, até hoje na rede estadual né? E assim, nós não trabalhamos para fazer poupança, eu não conheço nenhum professor que tenha dinheiro guardado. Nosso salário ele é todo, tem o destino todinho, recebe o salário e ele já tá todo repartidinho para pagar nossas despesas. Então, o Estado se apóia nesses professores precários pra dizer que nosso movimento não é tão forte quanto a gente tá dizendo, entende? Então por isso nós não defendemos contratação, defendemos que haja concurso público imediatamente, e que sejam concurso que ofereça vagas suficiente para suprir as demandas da escola, entende? Essa é nossa bandeira a nível nacional.

FV: Ta ótimo. Você quer colocar alguma coisa mais?

AG: Queria pedir desculpas porque eu não respondi sua pergunta...