quarta-feira, 7 de julho de 2010

Greve da USP: Esclarecimento sobre o piquete dos funcionários da Coseas na Creche Pré Escola Central

Publicamos abaixo à carta de esclarecimento das trabalhadoras e trabalhadores da USP sobre o piquete na Creche Central, no qual estivemos presentes trabalhadoras e estudantes do Pão e Rosas contribuindo ativamente na luta que protagonizaram em defesa da isonomia salarial, e em defesa do direito de greve, lutando contra o corte de ponto.

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São Paulo, 8 de julho de 2010.

Esclarecimento à Comunidade USP sobre o piquete dos funcionários da Coseas, com apoio da Assembléia Geral de Trabalhadores da USP, na Creche Pré Escola Central.

O presente documento responde à necessidade de esclarecer a comunidade acerca dos acontecimentos citados em documento divulgado no dia 07 de julho de 2010 pela Diretoria Executiva da Associação de Pais e Funcionários da Creche Pré Escola Central, na figura de Acauã Rodrigues, um dos sete membros dessa Diretoria (de acordo com estatuto).

A Creche Pré Escola Central realizou duas votações para decidir sua adesão à greve. Na primeira, decidiram apoiar a greve. Na segunda, decidiram por formas alternativas de atendimento durante a greve. Essa decisão foi respeitada pelos trabalhadores da Coseas depois de comunicado na reunião da unidade; por todos os trabalhadores da USP em greve após informe em Assembléia Geral da categoria; e pelo Comando de Greve, que é a entidade máxima de representação dos trabalhadores durante o período em que a diretoria do Sintusp se dissolve, ampliando-se democraticamente a direção do movimento.

Após algumas reuniões para decidir os rumos do movimento na Creche Central, ficou decidido que os funcionários que quisessem participar integralmente e ativamente do movimento de greve teriam seu direito assegurado, sem posteriores perseguições e assédios, como o que faz a Diretoria Executiva da APEF. Corajosamente, uniram-se concretamente à maioria da Coseas cerca de 25% dos funcionários da Creche, tendo cerca de 30% dos demais seguido apoiando o movimento, alguns declaradamente com medo de ser alvo de calúnias como as que podemos ler nos meios de comunicação a que a APEF teve acesso.

Aos 50 dias de greve, houve, por parte funcionários da administração, transporte e manutenção da Coseas, reclamações de que estavam sendo prejudicados em seu direito de participar do movimento, por terem que trabalhar para garantir o atendimento na Creche, tendo já sido descontados seus salários na folha de maio. Além disso, o coordenador da Coseas, Waldir Antonio Jorge, estava sumido há alguns dias, privando-nos do contato para a negociação dos descontos das folhas de maio e junho.

Frente a isso foi que, no dia 24 de junho a reunião da Coseas aprovou fechamento da Creche Central, como forma de protesto pacífico contra o ferimento do direito de greve dos companheiros, contra o corte dos salários na Coseas, uma das duas únicas unidades punidas com a inclusão de Faltas Injustificadas nas ocorrências do mês, onde se concentram os menores salários da universidade, e contra a repressão de pais e direções, essas sim violentas no abuso do poder conferido pela retrógrada burocracia hierárquica da USP.

Cabe também dizer que impressiona a falta de solidariedade e falta de consciência de classe de funcionários que viram as costas para seus colegas que lutam por uma universidade mais digna dos trabalhadores que tem, e fecham os olhos ao assédio das chefias, em nome da falsa segurança e anonimato.

O Sintusp não realizou intervenções autoritárias, uma vez que a Assembléia Geral é instância maior do que a APEF ou cerca de 7% dos trabalhadores da Coseas que trabalhavam na Creche. O Sintusp, entidade representativa dos trabalhadores, e que tem sofrido diversos ataques daqueles para quem interessa que os trabalhadores não se organizem, não foi responsável nem pelo piquete, realizado por funcionários da Coseas e apoiadores, que pediram o recurso do carro de som para serem ouvidos em seu protesto, como ocorre em qualquer ato legítimo. Porém, alguns pais, como um docente da EACH que disse "quem vocês pensam que são? Vocês não sabem com quem estão falando, eu tenho voto no Conselho Universitário", literalmente avançaram o piquete com suas crianças assustadas no colo, criando fatos midiáticos para denegrir a imagem dos trabalhadores.

A Creche não é refém do movimento, a Creche nasceu do movimento. Sem a luta de trabalhadoras há mais de 30 anos não haveria hoje cinco creches na Coseas. Quem desrespeita o Estatuto da Criança e do Adolescente é a USP, pois quando um pai se desliga da universidade a criança tem que abandonar a Creche, pois tem um reitor que diz em rede nacional que creche serve para "guardar crianças", quando essa concepção de creche já foi há muito superada, pois a LDBEN/96 há muito reza que o profissional da Educação Infantil é o professor, e que a diretora da instituição educativa precisa de formação específica, as crianças da USP têm todos esses direitos desrespeitados. E sem a consciência política dos trabalhadores das Creches não haveria uma educação comprometida com a sociedade de forma mais ampla. Àqueles para quem interessa que o trabalho com as crianças não reflita os conflitos da sociedade capitalista e desigual em que vivemos, interessa também construir uma imagem negativa dos professores que militam pela causa dos trabalhadores.

Professores que até hoje não são reconhecidos pela universidade por se chamarem "técnicos de apoio educativo", e não possuem os direitos adquiridos da carreira docente do Ensino Básico. O apoio da APEF a essa causa é bem-vindo, mas o Sintusp vem cumprindo papel crucial no acompanhamento da questão, conforme a Comissão de Nomenclatura das Creches, e é bom lembrar que ela nunca foi e em será a única razão de mobilização, pois diferentemente da APEF, não nos mobilizamos apenas por interesses umbilicais.

Por último, levar crianças à Creche no dia 28 de julho foi sim um ato de irresponsabilidade, tanto da APEF quanto da diretoria da Creche, não porque o piquete fosse violento, mas porque, com exceção daqueles pais que compareceram com seus filhos por propositalmente não terem sido avisados, as crianças foram usadas fisicamente e politiqueiramente por pais e educadores, e isso é vergonhoso.

Reproduzimos na íntegra, para aqueles que nos denunciaram que não receberam via e-mail da Diretoria Executiva, nem via comunicados da Creche, o texto que foi enviado à diretoria da APEF da Creche Pré-Escola Central e à diretora da Creche no dia 24/07/2010:

"São Paulo, 24 de junho de 2010

Comunicado

Os funcionários da COSEAS reunidos no dia 24 de junho de 2010 decidiram por ampla maioria, com dois votos contra e três abstenções, e com apoio da assembléia geral da categoria, o fechamento da Creche Pré Escola Central a partir da segunda-feira dia 28 de junho, em razão de:

  1. A continuidade das atividades da Creche, durante a greve de funcionários, está interferindo no legítimo direito de greve dos demais trabalhadores da COSEAS, de setores como transporte e administração, que são obrigados a trabalhar para atender as demandas da Creche.
  2. Tendo em vista que os trabalhadores da COSEAS tiveram dez dias de faltas injustificadas arbitrariamente registradas nas ocorrências do sistema Marte, em período de greve, tomaram essa medida como forma de impor ao coordenador da COSEAS Waldir Antonio Jorge, com quem não se consegue contato há três dias, a necessidade da abertura de diálogo para resolver o impassse.

Sendo assim, pedimos para as famílias não trazerem as crianças à Creche a partir de segunda-feira, uma vez que não haverá atendimento conforme decisão exposta acima.

Assembléia Geral dos Trabalhadores em Greve".

Comando de Mobilização e Defesa

Representantes de funcionários eleitos da COCESP, COSEAS, ICB, IB, FFLCH, ODONTO, FEA, ECA, Instituto de Geociências, Instituto de Psicologia, EEFE, FE, EDUSP, Reitoria Antiga, MAE, Instituto de Química, Faculdade de Direito, HRAC-Bauru, CESEB, IEB, Instituto de Física, Instituto Oceanográfico, FAU e Reitoria.

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