sábado, 6 de fevereiro de 2010

O Pão e Rosas entrevistou Mirla Hernández, feminista dominicana que esteve em Porto Príncipe, capital do Haiti

“Com armas de fogo não se levantam escombros, com armas de fogo se mata gente”

(República Dominicana, 04 de fevereiro de 2010) Falamos em São Domingos com a dominicana Mirla Hernández, quem se apresenta como feminista lesbiana autônoma e de esquerda. O encontro foi a poucos dias de sua volta de Porto Príncipe, a capital devastada do Haiti. “A sensação mais forte que ficou de ver essa situação foi a raiva, pelas mentiras que se apresentam nos grandes meios de comunicação sobre como estão reagindo os haitianos. A cidade está destruída, a maioria dos edifícios caíram no chão, tem muita gente na rua; mas não é verdade o que se diz de que as pessoas estão armadas e que estão matando e roubando a comida de outras pessoas. O povo haitiano é muito digno, é muito forte. Se existe um povo que sabe resistir esse é o povo haitiano”.

Em seguida nos diz, olhando para a câmera, “e isto é uma denúncia: Porto Príncipe está cheio de marines e obviamente que não é com o sentido de resgatar ninguém nem ajudar ninguém... estão aqui para ‘previnir’, sengundo eles, insurreições ou mobilizações”. Mirla faz um gesto de aspas com seus dedos quando pronuncia a palavra “prevenir”. Indignada, depois de ter visto as verdadeiras necessidades que estão passando o povo haitiano, Mirla disse: “mais do que marines, o que necessitam são pessoas para o resgate, gente que venha com equipamentos para levantar escombros; com armas de fogo não se levantam escombros, com armas de fogo se mata gente”.

Quando a perguntamos sobre a situação no Haiti, antes da tragédia, nos conta: “As denúncias que eu vi e escutei no Haiti sobre a MINUSTAH antes do terremoto, são denúncias de estupros de mulheres, de roubos e assassinatos. Eu vi membros da MINUSTAH, em 2008, paquerando e tocando meninas de 13 e 14 anos”. Sobre a situação das mulheres, explana: “Migram para esta parte da ilha – referindo-se à República Dominicana – e fazem o trabalho doméstico, trabalho de colheita nas fazendas de tomate, café, banana, nos campos de cana... e agora vai ser muito pior. Neste momento, todas as mulheres que estavam grávidas e estão tendo abortos espontâneos ou partos prematuros estão nas piores condições”. Também sabe que os estupros e a violência contra as mulheres aumentarão nesta catástrofe.

Quer deixar uma mensagem aos povos da América Latina e do Caribe que sentem profunda dor pelo Haiti: “Eu não vou dizer que mandem dinheiro nem que mandem coisas. É importante colocar as mãos, o ombro e todo o corpo a serviço do Haiti, mas lembrando uma coisa: nós não vamos resolver a vida dos haitianos. Os haitianos têm a força suficiente para retomar seu país. Necessitam de nossa ajuda, necessitam de nossa colaboração; mas não com uma política assistencialista, não somos nós quem vamos tomar o Haiti. Então quero chamar muito a atenção de que é preciso ter muito cuidado com o que está fazendo o governo dos Estados Unidos; há uma intencionalidade de invasão do Haiti, de apropriação do Haiti. É preciso estar muito atento para isso e não permitir essa invasão, é preciso denunciá-la, é preciso unir forças para não permitir isso ou pelo menos para dar este apoio ao povo haitiano, eles são os protagonistas de seu destino. É preciso respeitar a autonomia do povo haitiano”.

Mirla, junto a dezenas de feministas e mulheres de quatorze países da América Latina e do Caribe, assinaram a declaração unitária impulsionada pelo Pão e Rosas e outras companheiras feministas autônomas em todo o continente.

Se junte você também à nossa campanha enviando sua adesão e pedindo mais assinaturas para que se ouçam a voz enérgica de milhares de mulheres da América Latina e do Caribe em solidariedade com nossas irmãs e o povo pobre e trabalhador do Haiti!

Para aderir ao Pronunciamento de mulheres e feministas da América Latina e do Caribe em Solidariedade a nossas irmãs haitianas escreva para: solidaridadmujereshaiti@gmail.com

Comentários
Meniiinas, que legal vocês terem traduzido a entrevista. Quando li em espanhol, pensei que todo mundo tinha que ler por aqui! Ótimo! Bombaram =) Abraços feministas de Salvador. Paula Regina

Um comentário:

Paula Regina disse...

Meniiinas, que legal vocês terem traduzido a entrevista. Quando li em espanhol, pensei que todo mundo tinha que ler por aqui! Ótimo! Bombaram =)
Abraços feministas de Salvador