sexta-feira, 2 de outubro de 2009

"Estamos vivendo a ditadura dentro da fábrica"

Carta de trabalhadora não despedida da Kraft- Terrabusi

Hoje me apresento como trabalhadora da Kraft (ex Terrabusi) com muita dor e indignação, por tudo que estamos passando, não só eu, mas todos os companheiros e companheiras da fábrica que sofremos ameaças, medidas truculentas e como se isso não fosse o bastante também sofremos com a repressão.

Tudo isso por quê? Porque lutamos pelos nossos direitos!!! Este conflito começou quando amedrontados e em pânico, como estava todo o mundo diante da gripe A, pedimos higiene, limpeza, um pouco de sabão e que as mães tivessem alguns dias para ficarem com seus filhos, sem nenhum desconto dos dias parados. Nesse momento fomos ao prédio onde se encontravam os chefes, esses sim todos os dias tinham seus álcool gel, e que a cada hora tinham suas salas e maçanetas limpas e desinfetadas.

Esta empresa, não satisfeita em deixar tantas famílias sem sustento, ousou violar por vários momentos a conciliação obrigatória, sem respeitar nada, pressionou através dos líderes e chefes para que não acompanhemos aos despedidos em sua luta por seus trabalhos e hoje os chamam de delinqüentes. Depois de milhares de tentativas de vencer a luta dos trabalhadores, não conseguiram, graças a solidariedade que vem de todos os lados, não só de nós (trabalhadores da Kraft) quanto de fora. Muitas vezes o Sindicato quis enfrentar os trabalhadores querendo aumentar as linhas de produção, fazendo com que a gente se enfrentasse com os demitidos. Estes companheiros sofreram ameaças, discriminação e chegaram a tal ponto que quando os diretores se deram conta que nós dávamos nosso vale refeição aos despedidos, os isolaram para que eles não tivessem contato com a gente, levando a eles comida queimada... e assim viveram e vivem muitas injustiças. Não contente com isso, a empresa pressiona a um Juiz para que assine a ordem de despejo e assim reprimiram brutalmente não só os despedidos mas a todos que se encontravam fora do pátio, sem se importar se eram mulheres e crianças. A polícia não só utiliza de violência como também rouba o fundo de greve dos demitidos.

Hoje a empresa simplesmente pede desculpa, a nós que continuamos trabalhando, e que devemos esquecer tudo que aconteceu, e que comecemos de novo, como se nada tivesse acontecido... Entendo que isso não se trata de simples demissões, mas sim que apontaram a todos aqueles companheiros que sempre lutaram por que é nosso direito. O atropelo da empresa a nossos direitos chega a tal ponto que pediram a saída de um dos delegados que pertencia ao turno da noite. Estamos vivendo a ditadura dentro da fabrica, trabalhamos em um verdadeiro campo de concentração, cercados no dia de hoje, pela infantaria dentro de nosso andar. Me enche de tristeza e indignação saber que esta empresa quer tirar o nosso direito de ter representantes, lutar pelo nosso direito de ser respeitado como pessoas que só querem tem a possibilidade de uma vida digna para nós e nossas famílias.

*Traduzido por Bruna Bastos, do Pão e Rosas Franca.

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