segunda-feira, 17 de agosto de 2009

SOMOS TODAS HONDURENHAS!

ABAIXO O GOLPE EM HONDURAS!

O golpe em Honduras e a perspectiva classista e internacionalista do Pão e Rosas

por Rebeca Costa (estudante da Unesp-Marília) e Paula Berbert (estudante da Unicamp)

Há quase dois meses aconteceu, em Honduras, um golpe militar organizado pelas Forças Armadas hondurenhas e com o apoio do poder judiciário e legislativo, dos setores mais reacionários da burguesia daquele país e das igrejas católica e evangélica. Este é o primeiro golpe militar que acontece nos marcos da atual crise econômica, cuja saída apresentada pelas classes dominantes e pelos governos é aprofundar a exploração e a miséria da maior parte do povo, com demissões, diminuição de salários, retirada de direitos.

Honduras é o terceiro país mais pobre da América Latina, atrás somente do Haiti e da Nicarágua. 27,5% de sua população está desempregada e 49% de seus habitantes vivem no campo, em condições miseráveis devido, tal como no Brasil, à existência do latifúndio. Sua economia é completamente dependente dos EUA - 69,5% das exportações são destinadas a este país e 55,3% das suas importações são de produtos estadunidenses. Essa dependência fica ainda mais explícita quando pensamos sobre a composição de seu PIB: 25% é constituído por remessas de imigrantes hondurenhos que trabalham fora do país e os 75% restantes, dependentes de investimentos externos, estão, fundamentalmente, na indústria têxtil, na produção de bananas e café, destinados ao consumo norte-americano.

Em um contexto de crise econômica, os interesses e a dominação de uma burguesia claramente atrelada ao imperialismo estadunidense ficaram ameaçados e as divergências e as tensões políticas daí derivadas entre as diferentes frações das classes dominantes hondurenhas se acentuaram, bem como a sua intolerância a qualquer medida que pudesse aprofundar sua instabilidade. A aproximação de Zelaya, presidente deposto, com Chavéz e Morales, expressa na incorporação de Honduras na ALBA (Aliança Bolivariana para as Américas) e também no PetroCaribe (acordo de cooperação energética proposto pelo governo venezuelano entre os países caribenhos), além de um pequeno aumento salarial por ele proposto, desagradou os setores mais reacionários e pró-imperialistas do país. Finalmente, no dia 28 de junho, após a tentativa de fazer uma consulta aos eleitores sobre a possibilidade de alterar a constituição para que ele pudesse se reeleger presidente, Manuel Zelaya foi seqüestrado de sua casa e mandado para a Costa Rica pelos militares.

Mal os militares instituíam seu governo, com Micheletti, antigo presidente do Congresso, à sua frente, o povo hondurenho tomava às ruas da capital Tegucigalpa para lutar contra o golpe. Inúmeras manifestações massivas aconteceram, enquanto a classe trabalhadora, a juventude e as mulheres de Honduras se organizam bravamente para resistir. Enquanto isso, Zelaya tentava negociar sua volta com os golpistas, se dispondo, inclusive a concedê-los a anistia, com o aval da Organização dos Estados Americanos (OEA) e do imperialismo ianque, em um intento claro de desmoralizar a resistência do povo e naturalizar o golpe. E os golpistas respondiam as mobilizações com ainda mais violência, reprimindo os protestos, prendendo líderes sindicais e populares, além de assassinar ativistas como o Roger Adrian Vallejo Soriano.

Destacamos, nesta edição do nosso jornal, a heróica atuação das mulheres hondurenhas, que diante da truculência da burguesia e do exército agiram com ainda mais coragem e abnegação, organizando a frente Feministas em Resistência de Honduras, que congrega vários grupos de mulheres. Nós, do Pão e Rosas Brasil, saudamos nossas irmãs hondurenhas, prestamos nossa solidariedade juntamente com nossas companheiras do Pão e Rosas da Argentina e do Pão e Rosas Teresa Flores do Chile, e estamos ao lado destas valentes lutadoras pela derrota do golpe. As mulheres hondurenhas são um exemplo de organização e de luta para todas nós – trabalhadoras, donas-de-casa e estudantes –, demonstrando a força das mulheres, sobretudo quando nos colocamos ao lado dos trabalhadores.

O golpe militar em Honduras nos faz recordar dos piores momentos políticos da América Latina, as ditaduras militares. Historicamente, as ditaduras foram aqui instauradas pelos setores mais reacionários da burguesia de nosso continente, que não hesitam em recorrer a golpes e à repressão do povo quando sentem seus interesses econômicos e políticos ameaçados. Isso demonstra a todos os entusiastas da democracia dos ricos que somente a classe trabalhadora, munida de seus métodos de luta, é capaz de salvaguardar uma verdadeira democracia, a democracia dos trabalhadores e trabalhadoras. Ao mesmo tempo, chamamos a mais ampla frente única de todos os setores que se colocam contra o golpe para colocar de pé uma forte e ativa campanha internacional. O sangue do povo hondurenho não pode continuar sendo derramado!

Sabemos que a nossa luta contra a opressão machista é também uma luta contra o capitalismo, que só nos trás exploração e miséria. Nesse sentido, é preciso que tenhamos clareza que muito mais do que um diferencial em relação a outras agrupações de mulheres, o nosso classismo é a nossa principal arma. Vamos juntas quebrar os grilhões do capitalismo, acabar com a exploração, opressão e machismo. Lutar contra este sistema que nos exclui dos nossos principais direitos. Sistema de lógica patriarcal, que mantém as mulheres haitianas reféns das tropas militares, que ignora mortes de mulheres por abortos, estupros, que não respeita e tira nosso direito a maternidade e as escolhas sobre nosso próprio corpo, assim como nossa sexualidade. O fim da opressão de todas nós só será garantido com o fim deste sistema, que deve ser derrubado internacionalmente pela classe trabalhadora. Por isso, nos colocamos ao lado dos trabalhadores e de suas lutas. Hoje a tarefa mais imediata da classe trabalhadora na América Latina é a derrota do golpe militar em Honduras pela força de sua mobilização e pela solidariedade internacional dos trabalhadores. Por fim, nós enquanto grupo de mulheres que integramos a Conlutas, acreditamos que é urgente a tarefa de colocar de pé a mais ampla e ativa solidariedade à resistência das trabalhadoras, trabalhadores e do povo hondurenho, a começar pela própria Conlutas e os sindicatos e movimentos sociais que a integram, fazendo o mais amplo chamado a todos os sindicatos, centros acadêmicos, movimentos populares, feministas, de direitos humanos, para que organizemos no Brasil um grande pólo de solidariedade às trabalhadoras e trabalhadores de Honduras.

Nós, mulheres do Pão e Rosas Brasil, gritamos em alto e bom som:
SOMOS TODAS HONDURENHAS!
TODO APOIO À RESISTÊNCIA DOS TRABALHADORES E DAS MULHERES DE HONDURAS!
ABAIXO AO GOLPE!

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