terça-feira, 18 de agosto de 2009

Jornal do SINTUSP fala sobre dupla jornada e saúde da mulher

Reproduzimos abaixo texto publicado no jornal
do Sindicato dos Trabalhadores da USP.

Dupla jornada, dupla opressão

Muitas vezes ouvimos dizer que “política não é coisa de mulher”. E muitas vezes acreditamos nisso. Mas todas nós deveríamos buscar uma explicação melhor para o fato das mulheres serem minoria entre trabalhadores sindicalizados, minoria entre trabalhadores que freqüentam os sindicatos e, no nosso caso, terem sido minoria entre os trabalhadores em greve.

A opressão da mulher é algo que surgiu antes do capitalismo, mas que é apropriado por ele como forma de fortalecer a exploração dos trabalhadores. Isso porque, se em certo momento diziam que as mulheres deveriam ficar em casa cuidando dos filhos e dos maridos, foi também necessário incorporar essa mão-de-obra barata (mulheres e crianças) à produção. Entretanto, isso gerava uma contradição: ou as mulheres trabalham fora, ou cuidam da casa. O capitalismo resolveu essa contradição rapidamente, se utilizando da opressão da mulher para, por um lado garantir que pudesse incorporar sua mão de obra à produção, e por outro lado, naturalizando ainda mais a atividade doméstica como responsabilidade única e exclusivamente feminina.

Sempre foi e continua sendo, portanto, um senso comum que as mulheres são as responsáveis pelos afazeres domésticos, que nada mais são do que serviços que garantem a reprodução de todos (comida, roupa lavada, higiene, cuidado com as crianças, idosos e doentes). Então, o sistema em que vivemos resolveu não somente um, mas dois problemas: ao mesmo tempo em que incorporou a mulher à produção, contribuindo também para diminuir o salário de toda a classe trabalhadora, manteve a mesma atrelada aos serviços domésticos, obrigada a cumprir com um trabalho socialmente necessário para a reprodução dos seus familiares e que não é remunerado.

A essa contradição, de trabalhar fora de casa, mas também trabalhar dentro, chamamos “dupla jornada”. Hoje em dia, inclusive, muitos já falam sobre “tripla” ou “quadrúpla” jornada, em referência às mulheres que não somente trabalham e cuidam da casa, mas cuidam dos filhos, estudam, são militantes de sindicatos ou partidos. Mas o fato é que a maioria das mulheres, quando se deparam com essa vida, em que estão condenadas a dedicar as 24 horas de seu dia para outros (no trabalho para os patrões, em casa para os filhos, maridos, parentes), desistem de si mesmas. E desistir de si mesma é também acreditar que em sua vida não há espaço para política, para o sindicato, para a luta, para tomar seus destinos em suas mãos.

Mas, em nossa greve, muitas companheiras trabalhadoras participaram ativamente, dia e noite na luta pelos nossos direitos, contra as demissões e outras reivindicações, carregando em suas costas o peso de toda essa opressão. Para que cada vez mais mulheres se enxerguem como trabalhadoras que podem lutar, devemos incluir em nossa luta e na pauta do sindicato a exigência por restaurantes e lavanderias comunitárias, creches 24 horas, assistência a idosos e doentes, saúde e educação pública de qualidade, garantidos pelo Estado.


Diante da Gripe A: proteção às trabalhadoras grávidas!


O Ministro da Saúde que dizia que o país estava preparado para enfrentar a pandemia da gripe A mostrou que não é bem assim, já que as pessoas estão morrendo por complicações respiratórias. Segundo o Ministro as vacinas ainda vão chegar em dezembro e não vai ter para todo mundo, e o restante virá ainda em 2010 para serem preparadas no Instituto Butantã, o anti viral deveria ser distribuído em todos os hospitais públicos. As mais atingidas estão sendo as mulheres e quando grávidas acabam morrendo. Mesmo assim os governos, incluindo a USP e os empresários não estão se importando muito com isso e mantém as grávidas trabalhando. Mas é preciso respeitar o organismo das grávidas por sua imunidade fragilizada afastando-as o quanto for necessário e mantendo a remuneração. Dos casos confirmados as vítimas contaminadas em maioria são as mulheres e segundo dados do próprio Ministério da Saúde, até primeiro de agosto dos 71,5% de um total de vítimas contaminadas entre casos mais leves e mais graves 55,6% eram mulheres. A modernidade inventada pelo capitalismo que obriga as mulheres a continuarem com a dupla jornada e muitas vezes tripla, acaba fragilizando a saúde fazendo-as vítimas das doenças contagiosas com maior facilidade.

Proteção às grávidas, afastando-as do trabalho sem perda da remuneração. Assistência mais intensa no pré-natal. Garantia de alimentação e orientação necessária às mulheres trabalhadoras domésticas das periferias. Vacina para todas e todos já, não somente em dezembro. Distribuição de antivirais em todos os hospitais públicos. Política de proteção as trabalhadoras e trabalhadores das redes de saúde!

*Por Dinizete Xavier, funcionária do Centro de Saúde Escola Butantã e membro do CDB, e Diana Assunção, funcionária da Faculdade de Educação e integrante do GT Estadual de Mulheres da Conlutas. Ambas integram o grupo de mulheres Pão e Rosas e o Núcleo da Mulher Trabalhadora do SINTUSP.

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